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CONSULTA É COISA SÉRIA

Algumas semanas atrás uma médium e irmã amiga da gira de segunda-feira procurou-me relatando que dentre as várias consultas da noite, uma tinha lhe chamado a atenção.
– Caco, a consulente parecia estar mentindo. Como médium consciente fiquei com medo, pois achei que ela estava tentando me testar. A entidade manteve-se impassível e conduziu a consulta como se tudo fosse verdade, mas a impressão que tive é que ela sabia tratar-se de uma pseudo-consulta. O que você acha disso?
Poucos dias depois um outro médium relatou-me fato semelhante e diante da duplicidade da ocorrência achei por bem escrever algo sobre o assunto. Afinal, toda dúvida dever ser levada em conta, principalmente aquelas recorrentes, pois muitas vezes as entidades servem-se de nossos irmãos médiuns para alertar-nos sobre a necessidade de esclarecer alguns assuntos. Vejo com isso a necessidade de falar um pouco sobre o comportamento do médium com relação às consultas na gira de Umbanda.
O médium de consultas, por mais que a palavra deva ser usada com cautela, é visto pelo consulente como uma espécie de sacerdote ao qual o necessitado confia segredos e espera sigilo. É, guardadas as devidas proporções, como um padre recebendo a confissão e procurando com palavras sábias auxiliar aquele que lhe procura. Só por isso, já podemos imaginar o tamanho da responsabilidade de um médium de consultas, responsabilidade esta ampliada pela presença da entidade espiritual incorporada no médium. Para o consulente, ele fala com o espírito ali incorporado ao qual dedica total confiança e pela fé neste momento depositada, espera um auxílio para a solução de seu problema. Percebe-se aqui que a responsabilidade do médium no ato da consulta é duplicada, pois ele responde por ele e pela entidade. Não deve o médium jamais esconder-se atrás do espírito e mais tarde alegar:
– Foi ele quem disse, não fui eu.
Não, como o espirito se comunica por intermédio do médium cabe a este último, por meio de intensiva preparação e estudos, permitir que da sua boca saiam apenas palavras de conforto e alento e é claro, por meio da magia que a Umbanda nos oferece, utilizar as energias naquele momento presentes em benefício daquele que pede auxílio.
O teor de uma consulta jamais deve ser comentado em roda de amigos, por tratar-se na maioria das vezes de assunto íntimo e revelado em “confissão”, entendendo-se aqui confissão como consulta. Pode-se falar sobre o tema da consulta se isto for relevante e trouxer algum conteúdo que possa ser objeto de estudo dado a sua relevância para o aperfeiçoamento dos médiuns, mas jamais deve-se nominar as pessoas envolvidas. A única exceção aceitável é quando o médium, sentindo necessidade de abrir-se com alguém sobre o teor da consulta, seja pela complexidade do assunto ou por acreditar ser relevante para o consulente, revela os detalhes da consulta para o seu dirigente e apenas para ele.
Voltando à pseudo-consulta relatada no início deste artigo, surgiu em minhas mãos numa “coincidência” maravilhosa, um livro espetacular intitulado Diálogo dos Vivos psicografado por Chico Xavier e ditado por diversos espíritos. Um dos capítulos deste livro trata exatamente deste assunto e, por ser eu absolutamente incapaz de escrever algo melhor do que aquilo que ali está descrito, transcrevo a seguir o capítulo na íntegra.

Amigos da galhofa
(Chico Xavier)
A página de Albino Teixeira terá nascido de um assunto que muitas vezes nos preocupa no campo das tarefas espirituais.
Num grupo de amigos íntimos, antes da nossa reunião costumeira, falávamos a respeito das pessoas menos responsáveis que procuram os médiuns dedicados à causa espírita, mais no intuito de prejudicar as boas obras ou desmoralizá-las, do que no sadio propósito de colaborar na difusão das realidades e bênçãos da vida espiritual.
O médium está em serviço, ouvindo, por vezes, dezenas e até mesmo centenas de pessoas. Está imbuído da maior boa vontade para servir, sem qualquer ideia de remuneração ou destaque pessoal.
Em meio às criaturas sinceras que o procuram, buscando instrução e reconforto, surgem os companheiros interessados em perturbação e ironia. O médium está ali – ele mesmo, o médium – evidentemente amparado pela cobertura indireta dos bons Espíritos, dos mensageiros da Vida Maior, informando, cooperando, esclarecendo, servindo, enfim.
Os amigos da galhofa surgem dizendo-se necessitados. Inventam nomes supostos de parentes ou amigos, carregam a voz de aflição ou de choro que não sentem. O médium se enternece. Ele mesmo responde com boa intenção, procurando ajudar, seja com uma frase oral ou com um bilhete escrito ao suposto necessitado.
No caso, o médium é um trabalhador humano procurando colaborar com os bons Espíritos e prestar ajuda aos que o buscam, sem pedir-lhes sequer a identidade. Mas tão logo o médium preste o auxílio de que possa dispor, declaram os galhofeiros que tudo não passa de mentira que eles próprios inventaram.
Com essa preocupação fomos às tarefas da noite. Aberto O Evangelho Segundo o Espiritismo tivemos para estudo os itens 1 e 2 do capítulo XXI. Ao término da reunião, o devotado missionário do bem, Albino Teixeira, escreveu por nosso intermédio a página que lhe estou enviando.

A maior diferença
(Albino Teixeira)
Aquilo que mais te diferencia na Terra, perante a Vida Superior, para efeito de promoção espiritual, não será tanto:
• haver renascido em um corpo mutilado ou enfermiço;
• trazer graves conflitos psicológicos;
• residir num lar difícil;
• inquietar-te com familiares-problemas;
• aguentar frustrações e contratempos;
• experimentar o sarcasmo público;
• facear críticas injustas;
• tolerar humilhações e pedradas;
• suportar injúrias ou acusações descabidas;
• conhecer a deserção de colaboradores e companheiros;
• lutar incessantemente contra as próprias tendências inferiores;
• observar-te sob constante processo obsessivo;
• carregar tropeços e desenganos.

O que mais te destaca, no plano físico, ante a Vida Maior,
com vistas à aquisição de melhoria e aperfeiçoamento, no rumo da Espiritualidade Superior, será sofrer na área de semelhantes provações e prosseguir trabalhando e servindo, em auxílio aos outros, na prosperidade do Bem Eterno.

O valor do auxílio
(J. Herculano Pires)
O valor do auxílio não está na intenção do pedinte, mas na intenção do doador. Quem trabalha no bem deve dar sem olhar a quem. Ante a Vida Maior, como ensina Albino Teixeira, o que vale é o que fazemos em favor do bem. Se os que nos procuram trazem o coração envenenado, a mente cheia de suspeitas injustas e o ardil nos lábios, é evidente que são os mais necessitados.
Pois pode haver maior necessidade do que aquela que ignora a si
mesma?
Se os Espíritos Superiores não advertem o médium quanto às más intenções do consulente, é porque este deve ser socorrido e o médium precisa aprender a auxiliar até mesmo quando enganado.
O resultado das boas ações é computado pela evolução. O galhofeiro de hoje evoluirá amanhã e acabará por envergonhar-se de si próprio.
Precisamos considerar que a Terra é ainda um reduto da ignorância.
O consulente ardiloso ignora a extensão da sua maldade.
Tanto assim que busca a verdade através da mentira. Não compreende a importância do ato mediúnico e por isso não pode avaliar o que faz. Age inconscientemente no uso da própria consciência. Pode haver maior alienação do que essa? O médium, pelo contrário, está na plena posse da sua consciência voltada para o bem. Pode haver maior integridade moral no comportamento humano?
Que importa se o consulente alardear que enganou o médium?
Acaso o médium não é uma criatura humana e, portanto, falível? Quer o médium gozar da infalibilidade, quer ter algum privilégio na sua condição humana? Mediunidade a serviço do bem é aprendizado como qualquer outro. Se o médium se sentisse infalível, estaria à beira da falência. É melhor falir entre os homens ou perante os homens, por amor, do que falir ante a Espiritualidade Superior por vaidade e orgulho.
A obra mediúnica sincera e nobre não é afetada por alguns
episódios de prova. Os benefícios semeados através do trabalho digno não são depreciados pela maledicência e a ignorância. Os que receberam o bem de que necessitavam saberão multiplicá-lo ao seu redor. Porque grande é o clamor dos que sofrem e mesquinho o esgar dos zombeteiros. Prosseguir no bom combate, à maneira de Paulo, é o dever de todos os médiuns a serviço do bem.

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Notamos que a tentativa por parte de determinados consulentes de testar os médiuns não é algo novo. O livro Diálogo dos Vivos foi psicografado em 1974 e o próprio Chico Xavier já demonstrava preocupação com tal situação. Diante de assunto tão delicado como este surge J. Herculano Pires e nos contempla com brihantes esclarecimentos demonstrando ser o falso consulente o maior necessitado, pois ao testar o médium, ou a entidade, ou até mesmo o próprio Terreiro, age inconscientemente no uso da própria consciência. Pobre desequilibrado que carece de auxílio.

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