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O lugar do sofrimento na Umbanda e a cultura do hedonismo na contemporaneidade: Reflexões Psicanalíticas

CAPITULO DE LIVRO PUBLICADO nos ANAIS da 40. SEMANA DE HISTÓRIA E NO SEGUNDO ENCONTRO REGIONAL DO GT DE HISTORIA DAS RELIGIOES E RELIGIOSIDADES REALIZADO de 01 a 04 de novembro de 2011 na UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA (UEPG).

Resumo

Optou-se neste trabalho por uma leitura psicanalítica que dê conta do campo cultural e da religiosidade para que possa ser instrumentalizada uma compreensão da cultura consumista atual onde o prazer é maximizado e o sofrimento negado ou evitado.  A Umbanda permite entender, a partir do campo religioso como atuam as formas de subjetivação atuais e oferece um modo particular de resistência e de enfrentamento de uma cultura do individualismo e do espetáculo. Pretende-se aqui entender, a partir da psicanálise, que lugar é reservado ao sofrimento dentro do universo simbólico, imaginário e cosmológico da Umbanda e elucidar como a ruptura do paradigma religioso hegemônico pela perspectiva umbandista deu voz e corpo ao sofrimento e permitiu sustentar uma escuta emancipadora no campo religioso. A promessa messiânica é parte fundamental na sociedade do espetáculo, pois enclausura entre a negação ou cooptação do campo religioso. O sofrimento oscila, portanto, entre o pecado e a culpa, em uma interdição do corpo e da palavra. Assim, objetiva-se investigar os processos de demonização ou de dessacralização do universo simbólico e imaginário da Umbandista como interdição da emancipação no campo religioso.

Prof. Dr. Sidney Nilton de Oliveira
Pós-doutor em Economia da Educação (FE – USP), Doutor em Psicologia Social (IP – USP), Mestre em Comunicação Social (UMESP), Pedagogia (UNISANTOS), Psicologia (UNISANTOS), Professor Associado da UFPR.

Palavras-chave: Psicanálise e cultura brasileira, Sofrimento, Hedonismo, intolerância religiosa e Umbanda.

Questões introdutórias

Problematizar as questões pertencentes a cultura e a religiosidade dentro da academia é algo cada vez mais importante. Os recentes episódios de intolerância e preconceito têm atingido as bases da identidade brasileira.

No âmago desses atos de violência e de afronta ao direitos fundamentais da pessoa humana há um processo de opressão alicerçado no estranhamento do universo simbólico outro.

As subjetivações de uma igualdade na diversidade são aprisionadas no labirinto da massificação e no calabouço da mediocridade. A civilização do espetáculo e do hedonismo interdita a representação do simbólico e oprime ora por recalque, ora pela repressão.

O golpe final de toda opressão é a identidade coletiva. É a identidade a voz de um povo e o que permite que a palavra conte a sua história. Uma das últimas e decisivas fortalezas a capitular acontece que se efetiva o desmonte do sagrado e do ancestral.

É pela opressão que a sociedade impede a representação do sagrado e interdita a uma parte importante da história e da identidade de um povo. Ao calar o corpo e a voz se reifica, por meio da repressão a religiosidade, as relações com a natureza e as relações entre homens e mulheres e crianças.

Em uma contemporaneidade consumista as estratégias de reserva de mercado e os argumentos passionais e corporativistas interditam o diálogo e valorizam as discussões parciais. E assim um campo de pesquisa é constituído, ignorado ou negado.

Esse impasse também existe na palavra que consegue circular dentro das instituições. As posições conservadoras e tradicionais determinam o que se pode e como se pode estudar dentro de cada referencial teórico metodológico. E assim se fecha o circulo e a palavra é enclausurada.

Perpassando toda essa opressão, há no campo da cultura e, recentemente da religião, um crescimento do messianismo sob a égide de um neoconservadorismo sectário e intolerante. Multiplicam-se a cada dia as mais bizarras formas de violência sexual, cultural ou religiosa. Os chamados crimes de ódio se intensificam em um claro contra ponto ao mito da igualdade racial e da democracia cultural e religiosa.

Tomada em seu aspecto cultural ou da constituicao mais genuina de seu sagrado, a história do Brasil poderia muito bem ser contada pelos terreiros de Umbanda.  Fundada pelo proletariado espiritual a Umbanda surgiu em uma epoca de reencantamento com a nacionalidade, incluindo a instituicao ou a resistencia de mitos e herois locais.

Questões iniciais: A discussão a partir da Psicanálise

O estabelecimento do diálogo aqui proposto tem seu início com a delimitação teórica e metodológica que se pretende constituir para a problematização da questão e tema levantados. Pretende-se tomar como ferramenta os fundamentos psicanalíticos.

Optou-se neste trabalho pela escolha de uma leitura psicanalítica que dê conta do campo social e também da religiosidade para que, a partir daí, instrumentalize uma compreensão da cultura consumista na contemporaneidade, onde o prazer é maximizado e o sofrimento negado ou evitado a todo custo.

Ressalta-se aqui uma citação anterior (OLIVEIRA, 2010: 34-35):

… Há na psicanálise contemporânea ainda certa resistência com determinados temas e contextos. Tranca-se a psicanálise nos muros imediatistas do consultório e a prática dirigida a poucos. Existe entre alguns psicanalistas e, infelizmente, entre algumas instituições de Psicanálise uma posição ideológica e política que se mostra conservadora, reducionista e elitista e que se recusa a mudar e engessa sua visão (…). Além de escolher seu público, essa leitura da psicanálise também escolhe as angústias e privilegia as estratégias de enfrentamento que julga ser mais convenientes. Rompe-se aqui com uma ética paroquial, onde se instituía uma psicanálise voltada às classes dominantes e a uma realidade cada vez menos factível. Esta leitura da psicanálise entende-se que é o melhor instrumento para a investigação a ser feita. Optou-se por uma psicanálise que dê conta do campo social, distanciando-se da leitura ideológica e conservadora…”.

Pode afirmar, a partir daí que a psicanálise como teoria e método de pesquisa ainda tem dentro e fora da academia questionamentos sobre de que lugar pode falar.  Apesar de ser a universidade um continente privilegiado para essa discussão, ainda existe considerável resistência em determinados temas sociais ou culturais como objeto de estudo e pesquisa da psicanálise.

Há divergências também entre as escolas de psicanálise sobre como apreender os campos e as conexões da psicanálise sem distorcê-la ou sem perpetuar a interpretação de uma linha hegemônica sobre outras.

Com raras exceções, é na academia que prevalecem as leituras mais ortodoxas e conservadoras à psicanálise extramuros ou em extensão. Apesar disso, ignoradas as estratégias de reserva de mercado ou de retaliação o que sustenta a escolha desse instrumento é a inegável vocação social da psicanálise como tantas vezes ressaltou o próprio Freud (OLIVEIRA, 2010).

A partir dessas ponderações e dos recentes atos de intolerância religiosa e afronta aos direitos fundamentais da pessoa humana que ocorreram nas principais cidades brasileiras e levando-se em conta a complexidade e a riqueza do patrimônio cultural e da religiosidade brasileira, escolheu-se como pano de fundo dos questionamentos a Umbanda, por ser uma religião brasileira e que se constituiu a partir dessa diversidade.

Parte-se, portanto, neste trabalho, da psicanálise como instrumento fundamental de apreensão e compreensão do sofrimento e de sua representação simbólica e sua reflexão no imaginário social dentro da perspectiva umbandista.  Entende-se aqui que toda a riqueza e singularidade ética e estética presentes na Umbanda são porta-vozes da identidade brasileira no campo do sagrado e fruto da resistência política e cultural dos oprimidos.

O campo religioso e a cultura hedonista da contemporaneidade

Desde o começo da educação seja familiar, seja escolar, inicia-se uma retórica objetivando que as pessoas possam estar cada vez mais conscientes do papel a desempenhar. Esta persuasão vem travestida de modernidade e reclama um estado de exclusividade. As pessoas são condicionadas a serem submissas ao que é hegemônico e atende aos que detém o controle ideológico e político na sociedade.

Não é diferente quando se fala da educação informal ou da não-formal ou com o folclore, a cultura ou a religião. Há em todos esses campos aqueles que são a marca a identidade de um povo e de um momento histórico. As identidades se constituem e se estabelecem no enlace dos mais diferentes campos.

A marca da civilização atual é a cultura do espetáculo e a ideologia da performance. Maximiza-se o prazer e se nega a falta. A subjetivação é reforçada de acordo com a hegemonia dominante e a opressão exercida pelo recalque e pela interdição do imaginário e do simbólico do oprimido.

A sociedade atual tem suas contradições e seus espaços de resistência. Embora a lei não seja igualmente aplicada, há uma democracia política que permite pequenos avanços na luta pelos direitos humanos. Os projetos coletivos de alteridade e igualdade na diversidade são constantemente esvaziados pelos opressores.

Anseia-se por estabelecer uma verdade que como um farol possa guiar as pessoas pela rota mais adequada, segundo, evidentemente o ponto de vista dos beneficiados pelo modo de produção capitalista.

Ao contrário de outros tempos a legitimação dessa verdade se faz de modo sutil e, na maioria das vezes, subjetivo. Cada pequeno gesto reforça, pune e institui um simbólico e um imaginário convenientes ao poder hegemônico.

Não é de hoje que a elite dominante sabe que a educação prepara o homem para aceitar, rejeitar ou criticar a sociedade em que vive. Porém, na fase anterior o capitalismo não exigia mão-de-obra qualificada e analfabetismo era confortável as elites. Situação essa modificada pelas recentes crises transnacionais e pelas novas estratégias do capitalismo internacional.

Tal processo revela toda a vulnerabilidade do indivíduo aos engodos e fantasmas psicossociais, pois os grupos, instituições e organizações assumem, na maioria das vezes – na sociedade classista – o papel de representantes ou realizadores desses engodos. A grande estratégia capitalista foi a de legitimar cotidianamente cada etapa desse processo.

A ética hedonista pretende dar conta da lógica consumista e, ao mesmo tempo, oferecer-se simbólica e imaginariamente como meio privilegiado de produção dos objetos de desejo.

Se os atos mais grosseiros chamam atenção, as formas mais sutis de controle e de opressão passam quase despercebidas. O desmonte da identidade passa pela interdição do simbólico, esvaziando o imaginário e inviabilizando o sagrado de um povo. No Brasil esse processo acompanha os índios e os negros desde a colonização e acompanha todo patrimônio imaterial que foi construído ate os dias atuais.

O avanço de muitas religiões, sobretudo neo-pentecostais e de adeptos mais conservadores das religiões hegemônicas articulou uma opressão cada vez mais regular sobre as religiões de matrizes africanas e indígenas.

As cruzadas neo-pentecostais contra o patrimônio imaterial umbandista influenciou decisivamente alguns dos inúmeros atos de violência contra os terreiros, contra seus praticantes ou contra seus símbolos (OLIVEIRA, 2010; 2011).

No entanto essa questão, infelizmente, não se reduz ao campo religioso, pois o estado acaba envolvido em muitos casos por ação ou por omissão. Quando os aparelhos ideológicos do estado não se associam a essa opressão, parecem criar diversos empecilhos no registro e na conseqüente responsabilização criminal desses atos.

Por isso, embora sejam fartamente documentadas as violações dos direitos civis, da liberdade religiosa entre outros ainda não é possível precisar os danos causados ao patrimônio cultural imaterial brasileiro por conta da intolerância de determinados sacerdotes e de seus seguidores.

Na civilização arquitetada a partir do capital utiliza-se dessa condição para seduzir os indivíduos, os grupos, instituições e organizações, convertendo-se em uma referência idealizada para as ilusões individuais e coletivas.

O prazer tem que estar presente o tempo todo e o sofrimento é tomado sob a resignação de um desígnio divino ou destino imutável ou ainda pode ser visto como sinônimo de fracasso social ou incapacidade pessoal.  A maior parte das religiões atua como importante aliado no reforçamento dessa ideologia

Na contra-mao dessa ideologia, a Umbanda, desde sua oficialização em 1908, registrou avanços e retrocessos tanto no que se refere a sua influencia cultural e política como no numero de adeptos.  Mas a intolerância religiosa e a parcialidade de determinados registros dificultam precisar o impacto dessa opressão na Umbanda atual.

Aproveitando-se das antigas armadilhas ideológicas e léxicas e do estranhamento do imaginário da Umbanda ressaltou-se ainda mais a interdição simbólica da Umbanda.  Em trabalho anterior, ressaltamos os processos de demonização dos Exus e a prostituição das Pombas Giras, sem falar do reducionismo caricaturista com a história e o significado dos Pretos Velhos.

A questão do sofrimento na Umbanda

A Umbanda colocou tanto o prazer como o sofrimento em uma perspectiva antagônica a católica, pentecostal e, sobretudo, neo-pentecostais. Como já foi dito anteriormente (Oliveira, 2010; 2011), há no simbólico e no imaginário umbandista a utopia de um sujeito que pode dar vez e voz a sua vida, ao seu prazer e ao seu sofrimento, tornando possível uma escuta no campo religioso.

O sofrimento na Umbanda, não é tomado a partir da culpa e do pecado original, mas como um dos componentes possíveis e prováveis da vida humana que também apresenta momentos de prazer, vinculados ora as ações do sujeito, ora a condições que escapam desse mesmo sujeito.

Apesar das influencias espirituais a decisão final do sujeito cabe ao sujeito que toma seu destino nas mãos e se responsabiliza por suas decisões. Mesmo em casos de má influencia entende-se que são somente possíveis quando o sujeito baixa seu próprio campo vibracional. Enfim, o caminho se faz caminhando.

A lei de causa e efeito representa a radicalidade tomada em sua essência por aquele que lida com a satisfação ou frustração de suas ações. Semelhante a diversos protocolos que se segue em diversos campos da saúde a resolução começa com o compromisso do próprio sujeito com o enfrentamento de seu sofrimento. Cabe ao sujeito implicar-se no processo que, geralmente começa com a consulta com uma entidade (incorporada em um médium) e passa pela decisão pessoal em assumir o árduo trabalho dessa transformação.

O papel ativo do sujeito nesse contexto edifica uma saída completamente diversa da armadilha hedonista presente nas ilusões auto-suficientes da sociedade atual e presentes no campo religioso que faz da culpa e do pecado artifícios para negar a autonomia do sujeito e reforçar as saídas ideologicamente convenientes a seu status-quo.

Mesmo diante do sofrimento que advém de condições estranhas ao sujeito o cenário umbandista oferece um lugar dentro do campo religioso onde é possível sustentar representações proativas e colaborar para reconfiguração de foco e de escolhas, apesar do sofrimento e dos fatores que o desencadearam.

As entidades da Umbanda manifestadas no transe das incorporações ou nas mensagens dos pais e mães de santo ocupam diferentes papéis de facilitação ou mediação do crescimento e maturidade existencial do sujeito. Possibilitar o resgate com a autoria das próprias ações é ponto comum entre Pretos, Caboclos e Erês.

A intervenção cirúrgica e quase analítica do Exu ou a ponderação de um boiadeiro se efetuam sob a égide do livre arbítrio e do respeito autodeterminação das pessoas e visam contribuir para que no projeto pessoal possa ser possível a assunção subjetiva e a emancipação política.

É nessa cosmologia tupiniquim que indios e negros sao emancipados numa cosmologia democratica. Assim, se pode perceber que o caleidoscopio umbandista deu um continente mágico ao oprimido e, a partir dele construiu seu  projeto de inclusão social.

Romper com o que é hegemonico requer ser capaz de ir  além da repeticao e aquem da reificação. Requer organização, coragem, ousadia, ou como cantava Raul Seixas“… Prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo…”.

A guisa de conclusão

Pesquisar na academia sobre cultura brasileira ainda é um desafio na academia. As dificuldades de diversas ordens acabam determinando que problema de pesquisa seja considerado.

Nas ciências humanas, especialmente na psicologia, por incrível que pareça, ainda existem resistências quando docentes e discentes resolvem pesquisar ou escrever sobre o tema. Privilegia-se o paradigma clássico, ou seja, e o norte-americano e o europeu.

Ao partir do paradigma causa e efeito e da autodeterminação, a Umbanda recoloca o homem e seu sofrimento sob uma perspectiva dialética, permitindo resgatar no campo religioso uma práxis que permite por meio de uma assunção simbólica e imaginária trabalhar as formas de subjetivação contemporâneas e, a partir dessa condição desconstruir e resignificar a historia de cada um.

O homem é educado hoje para adaptar-se ao mercado e aceitar a realidade que é conveniente a ideologia dominante. As pessoas da contemporaneidade parecem mutantes desgovernados a esperada próxima crise. Na sociedade do consumo e do espetáculo a busca frenética do prazer constante é condição desejada e seu oposto sinônimo de fracasso pessoal ou condição fundamental de resignação existencial e de elevação espiritual para diversas religiões.  .

Quando a negação ou esquiva do sofrimento deixa de atuar com eficiência e é quase impossível (re) elaborar saídas satisfatórias para o sofrimento é o sujeito abdica de sua autonomia e projetando uma recompensa futura entende seu fracasso como merecimento ou como um sacrifico santificador. Nessa perspectiva a mudança pessoal, coletiva ou social nem é cogitada, pois é dada como previamente decidida.

Em tempos de desesperança e resignação e de uma opressão sutil e disfarçada resgatar velhos conceitos de libertação, conscientização e esperança, a educação libertária é capaz de fomentar a alteridade e projetos coletivos de luta por uma sociedade mais democrática.

A cidadania critica e emancipada passa pela infinita janela que se abre com a educação formal, informal ou não-formal. Quando democráticos esses processos permitem a formação critica transformadora que permite a pessoa conhecer e atuar sobre o mundo a sua volta. Mas para isso é preciso que a pessoa seja capaz de contextualizar e interpretar os fatos, idéias, palavras, atitudes, direitas e deveres, entre outros.

Na promessa messiânica, ailusão de obtenção da verdade universal e absoluta é acompanhada pelas benesses dos que possuem o controle dos direitos e deveres e constroem paulatinamente uma ética e uma estética ungida na dinâmica do mercado e assim internaliza em cada pessoa a possibilidade efetiva de se atingir a perfeição.

As religiões hegemônicas têm contribuído decisivamente para essa opressão, pois destituem a critica, desconstroem a contradição e legitimam a alienação e a conformidade. Seus ritos e liturgias representam simbolicamente sua ideologia quase sempre em sintonia ou conformidade com o hedonismo da sociedade do consumo e do espetáculo.

A ruptura com a tradição religiosa conservadora pela perspectiva umbandista dá voz e corpo ao sofrimento por meio de uma escuta emancipadora permitindo aquele que sofre assumir sua dor e assumir e trabalhar a autoria de seu destino.

Desprovidos da autoria de sua própria história as pessoas tem se resignado com o apocalipse neoliberal. As pessoas se acostumaram com a situação, estar indignado ou ter esperança é, no mínimo, patológico.

Na rede de significantes do imaginário messiânico a subjetividade se institui estrategicamente clivada. A história pessoal se edificará levando em conta a negação da falta e a busca infinita pelo prazer constante e absoluto e o sofrimento ocupa um não-lugar quase tão rejeitado quanto a morte e o morrer.

No imaginário umbandista prazer e sofrimento são movimentos dialéticos que circulam num continente que se institui a partir da ação do próprio sujeito que é chamado a assumir sua historia e reconciliar-se com seu passado e sua ancestralidade. O que permite ir da assunção subjetiva para a emancipação política e para retomada da autoria dos cuidados com sua saúde física e mental e com seu lugar no mundo (OLIVEIRA, 2009; 2010; 2011).

É por meio do resgate com a identidade coletiva e com a história por meio da ancestralidade resgata simbolica e imaginariamente um lugar possivel para uma cidadania emancipadora que é capaz de sustentar uma utopia de mudancas em termpos de desencanto e que se renova no resgate simbolico e imaginário com o que forjou a nacionalidade brasileira

É a parir dessa perspectiva que a subjetividade do oprimido possa ser compreendida em sua riqueza simbólica e possibilita, a partir daí a construção de um projeto politico libertário.

Por fim, a resistência e a superação da opressão cultural e, sobretudo política são possíveis quando se resgata a história pessoal e a identidade cultural e se sustenta uma utopia libertaria que ao dar cidadania permite que o humano mais oprimido se reorganize e se emancipe.

Referencias

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