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ESPAÇO DO MÉDIUM | RAFAELA MASCARENHAS ROCHA

Sempre que canto o ponto ao Babalaô Pai Fernando de Ogum reflito sobre o tamanho da estrutura que ele construiu, ou ainda, tudo o que se construiu a partir de sua obra na Umbanda.
É interessante questionar, aliás, na Sociologia se faz isso o tempo inteiro. E foi em uma aula sobre Diversidade Cultural Brasileira que nossa Casa de Fé surgiu como um tema a ser pensado. Quando mencionado que o Terreiro Pai Maneco é o maior templo umbandista do Brasil, o primeiro pensamento – enquanto filha de fé – foi a frase da Oração ao Pai Maneco: “que orgulho, a soberba e o desejo de superioridade nunca se aproximem de mim ou desta Casa”. Não é agradável citar o TPM com o subtítulo “O maior do Brasil”. Mas sim, seremos sempre uma Casa de Caridade ali no Santa Cândida, com uma energia incrível. Mas o segundo pensamento foi uma questão: Como é possível o maior terreiro de umbanda do país estar localizado em uma cidade tão orgulhosa de sua influência europeia, tão predominada pela branquitude nas festas típicas, nas comidas populares? Como uma religião tão preta e indígena encontrou espaço para florescer aqui? A resposta é uma só: Fernando Guimarães.
Pai Fernando tinha uma mensagem e o compromisso de passá-la adiante. E sua determinação na grande tarefa era como uma flecha puxada para trás, que força nenhuma a detém de ser lançada. A origem social de Fernando Guimarães é na classe alta Curitibana, atuou como membro do poder judiciário estadual, frequentava o Jockey Club do Paraná sendo inclusive criador de cavalos de corrida. Circulando pela elite local, ele fez dessa posição social uma ferramenta para propagar a fé na Umbanda. Assim, ele lutou contra os preconceitos em torno da “magia”, do “saravá”, das “coisas de Preto Velho”. Mas jamais com o propósito de praticar uma Umbanda para esse ou aquele grupo social. Sempre para quem precisar! Cada estaca de madeira que sustenta nosso terreiro está fincada no solo da capital mais branca de todo o Brasil – apenas 21% da população de Curitiba se declara preta ou parda. E nossa Casa, seu tamanho ou popularidade também são o resultado de uma luta contra o racismo religioso, muito antes desse termo ser elaborado.
A Umbanda transmitida por Pai Fernando está acima do valor do carro que levou a pessoa até o terreiro, ou de qualquer outro bem material, porque todos estamos com os pés no chão. A roupa branca como um uniforme é também uma blindagem a qualquer vaidade. Nosso trabalho tira as aflições doenças do corpo e da alma. E desta casa se formaram muitos outros dirigentes, abrindo outras casas ou trabalhando aqui mesmo, mas popularizando a religião e sob o mesmo fundamento: distribuindo o Bem que vem de Aruanda, para todos e para qualquer um.

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