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HOJE A UMBANDA ESTÁ EM FESTA! É HORA DE TRABALHAR.

Sempre aprendi que na Umbanda é hora de trabalhar. Não temos tempo a perder. O tempo na Umbanda é diferente do nosso. Nele, há apenas a lei que move toda engrenagem, no tempo certo, de acordo com o merecimento, o livre arbítrio, o exercício da fé e do amor, a lei da ação e reação, o semelhante que atrai semelhante. O tempo pertence ao Astral. Aprendi a Umbanda pelos ensinamentos de um amigo, irmão, pai. Fernando Macedo Guimarães, o Fernandão, o Pai Fernando, o Pai. Filho incontestável de Ogum. Trabalhador. A quem o tempo foi suficiente honesto e justo para que desenvolvesse o trabalho que deveria ter sido feito. E foi. Hoje a Umbanda está em festa! É hora de trabalhar. O Pai Fernando estava sempre atento ao modo de pensar a nossa religião. Estava sempre aberto a todo e qualquer tipo de mudança. “Me convença que é assim que eu mudo de opinião. Por enquanto, esta é a minha”. E assim ele modernizou a Umbanda que era repleta de mistérios. Ele abriu as portas e fincou seus pés no chão. Aqui, fazemos a Umbanda Pés no Chão. Simples, direta, respeitosa, argumentativa, evolutiva. Hoje a Umbanda está em festa! É hora de trabalhar. O terreiro do Pai Maneco, cuja corrente de ferro, aço e alma no coração, é uma escola em que se pratica, exercita, compartilha e constrói em conjunto com o mundo astral. Os espíritos estão para servir tanto quanto nós a eles. Juntos, aprendemos e evoluímos. Juntos, fazemos nossa parte. Acreditamos. Simplesmente acreditamos. Quantos não são aqueles que entraram pela porta sempre aberta por meio da dor ou do amor? Quantos não vem para agradecer? Quantos não vem para pedir? Quantos não vem com peso e aperto no coração? Quantos não vem com a dor física? Quantos não entram por aquela porta acreditando que há uma resposta? E a resposta está – acreditem ou não – dentro de nós mesmos. O poder da transformação vem de dentro. Precisamos nos conhecer antes de mais nada. Precisamos da nossa fé. A fé em nós mesmos, independente de qualquer religião. Precisamos nos conectar com o poder do amor. A partir daí tudo muda! Hoje a Umbanda está em festa! É hora de trabalhar. Aqui dentro vivemos em constante batalha. A batalha interna a fim de compreender que nós que efetivamente mudamos o mundo e a batalha contra o mal. O mal sempre existirá. Porém, o bem sempre vencerá. Sempre. Aprendi com Pai Fernando que se estamos aqui é porque somos os piores, os mais sofridos, os mais necessitados, os mais imperfeitos. Se carregamos uma guia no pescoço é porque temos nossa responsabilidade. E quanto mais grossa a guia for, mais pesado nosso fardo. Quanto mais sentarmos no meio para um trabalho, mais necessitados somos e estamos. Somos cavalos. Somos soldados. Devemos estar prontos sempre. Alertas sempre. Somos umbandistas o tempo todo, vinte e quatro horas do dia. Alerta, orando e vigiando. Sempre. Pensamentos no amor. Tarefa nada fácil para nós, os imperfeitos, os maledicentes, os invejosos, os egoístas, os vaidosos. Sim, somos tudo isso e mais um pouco. E é justamente por isso que estamos aqui, exercitando nossa capacidade de transformação. Nossa capacidade de amar. Nossa capacidade de estabelecer e praticar o bem. Estamos aqui, pois estabelecemos um pacto com nós mesmos. Nos dispusemos a vestir o branco, estar em bons pensamentos, fazer os preceitos, orar, vigiar. Hoje a Umbanda está em festa! É hora de trabalhar. Certo dia perguntei ao Pai Fernando o que era a humildade. De pronto, peremptória e laconicamente, ele respondeu “é não julgar o próximo”. Aquilo mexeu. Incomodou. Me colocou no meu lugar. Me fez compreender que somos um grão de areia em um deserto. Uma gota de água em um oceano. Um nada. Me fez enxergar e compreender que é a partir do nada que podemos transformar o todo. Que podemos sim ser cada dia melhor. Que, como um soldado que escolhemos ser, podemos transformar. Transmutar. Exercer o poder. O único poder. O poder que a Umbanda – a nossa Umbanda – com esta corrente de ferro, aço e alma no coração, nos permite ter e ser: o poder do amor. O poder em amar. O poder em olhar no olho de quem quer que seja e sentir que podemos – e devemos amar. Hoje a Umbanda está em festa! É hora de trabalhar. Aqui dentro trabalhamos. Incansável e permanentemente. Trabalhamos, pois não há tempo a perder. Trabalhamos por que há gente que necessita de um carinho, um olhar, uma vibração, uma fé, uma magia. A Umbanda é mágica. Tem vela, tem pemba, tem ponto riscado, ponto cantado. Tem Ogum, Oxóssi, Xangô, Iemanjá, Oxum, Iansã, Oxalá. Tem Exu. Tem Marinheiro, Boiadeiro, Cigano, Baiano, Preto Velho, Erê. Tem médico, caboclo, Oriente. Tem Nanã, Omolu. Tem Pantera. Tem águia, cobra, fruta, árvore, ar, mar, o verde das matas. Os ventos. A pedreira. Os minerais. Tem Jesus, Nossa Senhora. Hoje a Umbanda está em festa! É hora de trabalhar. Nossa religião é a cara do nosso país. Tão diverso, tão rico em sua cultura, em seus usos e costumes. Ateu e com fé. Agnóstico e curioso. Graças a Deus. Nosso país acredita. Nosso povo – nossa gente, nossos irmãos – acredita. E acreditando, sempre acreditando, nos mantemos em pé, firmes, como soldados, a lutar o bom combate. Quem está de ronda é São Jorge! Um dia, em uma viagem até a praia, sozinhos, Pai Fernando e eu, perguntei sobre a morte. O que é a morte? Para onde vamos? E ele me disse “a morte é a vida. Não há morte. Há o prosseguimento, o caminhar”. E continuou com sua doçura de pai, olhos marejados, como que relembrando toda uma história – talvez toda a história da Umbanda que já estava no passado e aquela que ainda estava por vir – “não tenho medo da morte. Só não quero morrer. E vou continuar trabalhando”. Esta foi a lição do meu maior soldado.

Hoje a Umbanda está em festa! É hora de trabalhar.

Rodrigo Fornos

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