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Qual é a nossa função na gira?

Quando entramos na gira estamos muito entusiasmados e ansiosos, queremos que a gira comece logo que passe rápido todo o ritual de abertura e chegue o momento em que podemos incorporar. Quando tocam os atabaques e as sambas começam a declamar a música como se fosse um poema o corpo arrepia, você fecha os olhos e tenta se concentrar, pois a magia é tão grande que você quer acompanhar tudo, não quer deixar passar nenhum detalhe. Eis que você percebe as sambas chamando a assistência para a vibração das sete linhas e você ainda não incorporou já que estava tentando fazer tudo ao mesmo tempo. Na parte da cura toda a vibração que estava sentindo já passou e logo chega o intervalo. Na segunda parte você quer trabalhar no meio, e foge pra que ninguém te chame para cambonear. Começa a gira e algum capitão chega e pergunta “você pode cambonear tal pessoa?”, não somos nós que iremos dizer não. E então vamos, e tudo ocorre de uma forma maravilhosa. Cambonear é simplesmente uma experiência inexplicável.

Na última gira de Preto Velho, me ocorreu que estava na expectativa de ser chamada para cambonear, mas naquela gira ninguém estava precisando. Tenho um problema na coluna, por isso não consigo ficar por muito tempo incorporada com Preto Velho. Eu queria de qualquer forma me sentir útil naquela gira. Poxa, não estava camboneando, não conseguia mais incorporar, pois a dor estava extremamente forte.

Comecei a observar o meio e estavam todos calados e parados, olhei para os ogans, que estavam suando e tocando os atabaques com a maior dedicação, mas um pouco desanimados já que a gira estava um pouco parada. As sambas já não sabiam mais o que cantar, estavam realmente se empenhando para animar a gira. Eis que comecei a bater palmas e cantarolar os pontos um pouco mais alto, alguns médiuns se animaram e começaram a bater palmas junto comigo. Aos poucos meus amigos foram desincorporando e se juntando nas palmas e no canto. Os médiuns novos se animaram também e a gira tomou outro rumo. A engoma brilhou, e todos começaram a sorrir. Quando percebemos nós estávamos todos em sintonia numa corrente de ferro e de aço. O desenrolar da gira foi maravilhoso, e ao final eu e meus companheiros nos emocionamos muito com a entidade dirigente do trabalho Dona Maria Redonda que ficou muito feliz e ao final da gira batemos cabeça um para o outro, todos juntos.

Naquele momento eu entendi qual é a função de cada um na gira. E que todas as funções são importantes. A função do cambone é sustentar as consultas. O cambone não é aquele que auxilia o espírito alcançando velas ou servindo marafo, a função do cambone é muito mais do que isso. É ajudar o espírito a desenvolver a consulta da melhor forma possível, é aprender e às vezes também ensinar. A função de quem está no meio é incorporar para realizar os trabalhos necessários designados pela entidade dirigente da Mãe ou Pai de santo, como cura, demandas, etc.

Ser médium na umbanda é muito mais que incorporar e dar consultas. Ser médium na Umbanda é ter amor pelo o que faz. É cantar os pontos, bater palmas, ajudar a engoma no desenvolvimento do trabalho que está sendo feito. Às vezes uma simples coisa que fazemos pode ajudar muito mais do que imaginamos. Temos uma missão a cada gira e seja ela qual for, devemos fazer muito bem feita, não importa o que seja!

A função de todos na Umbanda é manter a corrente unida, não quebrar a energia, potencializar a magia que nos envolve, que cura, que vence demandas e quebra mandingas.

Gostaria de agradecer a minha Mãe de Santo Lucília Guimarães, a toda a hierarquia de segunda-feira, Capitães, Ogans, Sambas, e principalmente agradecer aos meus companheiros a todo o apoio, alegria, força e amor para desenvolver e nossa amada Umbanda!

Saravá! Anna de Oxóssi.

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