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Ninguém é tão forte como todos nós juntos

por Marcio Bellé

Uma vez alguém perguntou ao Pai Maneco a importância de um terreiro bonito e confortável.

Meu filho, se esta casa cair, vocês vão se reunir lá fora, olhando para o céu estrelado, e vão continuar trabalhando. Mas se a corrente se dissolver, o terreiro, mesmo belo e sólido, vai fechar. Acho a corrente mais merecedora de cuidados que estas paredes frias. Nunca trabalhei  sozinho, só com a corrente. Quem trabalha sozinho, um dia ou outro, vai se complicar”.

“Só tem um jeito, venha!” Foi dessa maneira que o Caboclo Akuan praticamente ordenou minha entrada na corrente. Já ouvi muitas vezes que a pessoa entra na corrente pela dor ou pelo amor. Incluo-me numa categoria diferente. Mesmo passando por um momento de dor, e amando toda aquela novidade, para mim o que foi definitivo para tomar minha foi o olhar severo, e ao mesmo tempo cheio de amor daquele coroa.

Aquela ordem me deixou intrigado. Por que só teria um jeito? Por que tenho que vir para ter jeito? Qual é o jeito? Como ele sabe que tem jeito? Muitas dúvidas me perseguiram durante uma semana até a próxima segunda-feira.

Eu já tinha ouvido falar da Umbanda, dos espíritos e de sua energia através de uma tia que trabalhava com uma Preta-Velha maravilhosa. Mas sinceramente pouco me importava com o crescimento espiritual. Estava muito mais preocupado com meu bolso naquele momento do que com qualquer outra coisa, mas isso se tornou pouco para mim, depois do que ouvi daquele Caboclo.

Como o tempo não pára, segundo o poeta da minha geração, a segunda-feira chegou. E todas as dúvidas se calaram quando ouvi o Hino da Umbanda pela primeira vez. A corrente entrava toda de branco. Com suas guias coloridas e sorriso nos rostos, felizes, todos pareciam levitar. Naquele momento entendi o que o coroa incorporado quis dizer. Tudo ali dentro da corrente, naquele momento poderia sim ter jeito. Meus medos, minhas angústias e meus traumas e também minhas contas atrasadas tinham ficado do lado de fora da porta. Até minha crônica dor nas costas tinha me deixado em paz.

Ali, naquele momento, podia pedir sem medo, mesmo sabendo que errei tantas vezes. Também encontraria o perdão, humilde, porque a resposta era simples e cheia de carinho e sem nenhuma cobrança. Queria ser mais um elo daquela corrente de paz e amor.

Com o tempo passei a entender a força que ela tem. Desde o mais experiente àquele que acabou de entrar, cada elo tem sua importância, sua força e sua energia. O mais experiente de todos, Pai Fernando, nunca abriu mão de uma corrente forte e bem concentrada.

Nosso querido pai sempre me disse para acreditar somente no espírito, quando eu quiser saber algo sobre a Umbanda. Pai Maneco disse. E para mim está dito:

A corrente é a força do Terreiro. Tudo gira em torno dela. São meus pequenos deuses. Que Oxalá abençoe a todos eles”.

Obrigado Pai Fernando por nos mostrar que somos pequenos deuses à procura de paz, amor e liberdade, e principalmente o lindo caminho da fé. Fazer parte dessa corrente de ferro e de aço é motivo de orgulho e confiança para todos nós. Para sempre.

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