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Umbanda pés no chão

Acho necessário ficar gravado para os atuais médiuns e os que no futuro ostentarem em sua roupa branca o emblema do Terreiro do Pai Maneco, o que aprendi no exercício de minha trajetória.

Orientação do Pai Fernando aos Médiuns do Terreiro do Pai Maneco

Por ser um ferrenho pregador da liberdade do ser humano, por convicção não estou filiado a nenhuma Federação ou Confederação para não ter que obedecer qualquer regra humana ou política. Não quero dizer que a liberdade seja absoluta, ela vai até onde inicia a liberdade de outro. O respeito, a educação, a honestidade e o bom senso são os reguladores do comportamento de todos que estiverem sob a tutela do terreiro de todos nós.

Não gosto de segredos e adoro desmistificar o que por conveniência está mistificado por alguns pregadores carentes da ousadia. Não posso entender uma religião que não possa caminhar com a modernidade, a humildade e coragem para mudar conceitos, descobrindo e adotando novos valores.

O que hoje é tido como certo pode ser modificado diante de uma evidência mais forte. É assim que penso e assim vou agir até onde minha força possa me manter. Gosto da franqueza e não admito traição. Não ligo o que pensam de mim, mas respeito o pensamento dos outros. Entendo o erro, mas não aceito a exploração da religião. Não admito o uso do sangue como elemento de trabalho, por respeito à vida dos animais. Meus mestres são os espíritos e só deles recebo ordens.

Depois desta apresentação, sinto-me mais à vontade para modestamente organizar um curso de orientação da Umbanda dirigido aos integrantes do nosso terreiro e também a quem queira dele tirar algum proveito.

Antes de iniciarmos um estudo sobre as várias faces da Umbanda devemos perguntar: por que ela existe, qual a sua estrutura e qual a sua finalidade? A Umbanda é uma religião litúrgica e está ligada com a manifestação dos espíritos na matéria, tendo como base da evolução do espírito a reencarnação, e segundo o que as entidades nos dão notícias, ela foi cuidadosamente elaborada pelo Astral Superior para servir ao povo brasileiro, com a manifestação dos espíritos que quando encarnados fizeram parte da História do Brasil e estão com ela envolvidos, caso dos índios, dos pretos africanos e seus descendentes e dos mestiços dos índios e pretos, índios e brancos, que são os chamados Caboclos e os Pretos e Brancos, que formam a linha dos PretosVelhos.

Foi explicado pelo Caboclo 7 Encruzilhadas que esses espíritos não podiam se manifestar como guias nas sessões espíritas tradicionais por serem considerados atrasados. Para sanar essa discriminação a Umbanda foi introduzida em nossa cultura. A diferença da linha Kardecista e a Umbanda é que a primeira só trabalha com a energia dos médiuns e do espírito, enquanto a nossa Umbanda, além disso, manipula os elementos Terra, Ar, Fogo e Água – explorando o conhecimento dos índios e pretos, através das Ervas, Ponteiros, Imagens, Charutos, Pólvora (fundango) e Guias de proteção, além da grafia mágica da Pemba, giz de forma oval.

Ela aceita e usa a força dos elementais, que são os Duendes (terra e ar), Salamandras (fogo) e Ondinas (água). Além do Triangulo Espiritual (Caboclo, Preto Velho e Criança) fazem parte da Umbanda várias linhas, como ciganos, boiadeiros, baianos, marinheiros, médicos, orientais que alimentam a parte esotérica e outras que podem eventualmente serem chamadas.

A grande força da Umbanda está com a Quimbanda, onde trabalham os Exus, a esquerda da Umbanda, formada por espíritos também ligados à História do Brasil, no caso os dominadores do nosso Pais, os Europeus.

Esse é um resumo para dar idéia da grandeza da Umbanda, que adiante vamos esmiuçar. Embora a Umbanda tenha raiz Africana, afinal os escravos e seus descendentes fazem parte do triangulo Caboclos-Pretos-Crianças, ela está muito distante do Candomblé, uma religião autentica da África e que conflita bastante com os fundamentos da Umbanda, que não vou mencionar por não ser um entendido do Candomblé.

  • A Umbanda foi oficialmente declarada como religião em 1908, mas esse episódio está sendo relegado a plano secundário por várias correntes importantes, que pregam a Umbanda como existente antes desta data. Nós adotamos a data da oficialização do Zélio de Moraes e os seus ensinamentos básicos, embora todas as correntes merecem respeito. O tempo vai corrigir as distorções entre os pregadores através da lei do uso e do costume.
  • Apesar de sua cultura indígena, o Caboclo Sete Encruzilhadas deixou bem claro que a Umbanda tem a sua base fundada no Evangelho de Jesus Cristo, e a relação com a Igreja Católica pelo nome N.S. da Piedade fincou fortes raízes entre as duas religiões, em concreta discordância do Candomblé, que não usa o sincretismo com os Santos católicos.
  • Fica bem claro que o sincretismo já era forte quando foi criada a Umbanda, uma vez que ela foi criada em 1908, vinte anos depois da Lei Áurea promulgada pela Princesa Isa bel , e o nome da N.S. da Piedade foi reverenciado no primeiro terreiro brasileiro, o do sr. Zélio de Moraes. Esse fato esclarece a razão da Umbanda estar mais ligada com o Catolicismo que com o Kardecismo e Candomblé.
  • Se foi criada a Umbanda como uma religião organizada por espíritos superiores, ela tem um objetivo ainda não bem entendido por nós. Sua função maior é lidar com espíritos que fazem o mal, e devemos considerar de grande importância saber o que eles fazem, como podem fazer e o que precisamos agir para interromper a ação indesejável dessas entidades atrasadas e que não são pertencentes ao quadro dos trabalhadores espirituais da Umbanda.
  • A reencarnação é a mesma base evolutiva do espiritismo tradicional e também de várias outras religiões orientais.
  • Se fazem parte dela os espíritos que quando encarnados tiveram uma atuação positiva ou negativa em nosso País, devemos tentar entender como eles se manifestam dentro da Umbanda.
  • O triângulo espiritual da Umbanda está formado pelos caboclos, pretos-velhos e crianças, mas além deles outros espíritos fazem parte ativa como guias e linhas espirituais.
  • O espiritismo kardecista trabalha apenas com a vibração da energia dos médiuns e do próprio espírito, enquanto a Umbanda, além disso, manipula as forças da Natureza, o que lhe dá maior potencial de solução dos problemas.
  • Pela natureza da religião, dá para entender que as linhas têm especialidades de trabalhos, cada uma trabalhando de uma forma e com característicos próprios com a intenção de resolver problemas de formas diferentes.
  • Alguns autores entendem que a Quimbanda é uma religião que não é a Umbanda, entretanto a Umbanda usa, manda e encaminha para a Quimbanda tipos de trabalhos que estão na especialidade dos Exus e das Pombas-gira.
  • Candomblé não é Umbanda e misturar as duas religiões em uma só descaracteriza as duas religiões, não sendo nem Umbanda e nem Candomblé. Nós devemos seguir a Umbanda sem misturar com o Candomblé. Como não sou conhecedor do Candomblé, quem quiser ver as suas diferenças deve estudá-las em livros especializados, entre os quais recomendo o de Pierre Verger.
  • Os Exus são, pelo que entendemos, espíritos que também tiveram envolvimento com a história do Brasil. São espíritos de grande inteligência e importância, que viveram com essas qualidades na mesma época do descobrimento. Mais adiante, vamos estudá-los com mais profundidade na tentativa de desmistificar as caras demoníacas, chifres e patas de bode que o folclore e o engano popular impuseram a eles, embora eles não desmintam claramente esse erro, talvez para esconderem as verdadeiras identidades, pois pela lei do carma estão à serviço de seus subjugados na época do descobrimento.

O culto e a prática da Umbanda dividem-se em três partes: a física, a mediúnica e a espiritual. Física é o terreiro, mediúnica são os médiuns e espiritual os espíritos e toda força invisível que atua sobre a física e a mediúnica.

No terreiro é onde se praticam os trabalhos espirituais. Como parâmetro vamos descrever o Terreiro do Pai Maneco, que no fim vai ser igual a todos, tendo em vista que os demais podem diferenciar em número de médiuns, tamanho ou Orixá mandante, mas são semelhantes. Dentro da construção física o espaço do nosso terreiro é de forma redonda e é onde se faz as giras e está localizado o Congá. No meio do terreiro tem uma estrela com o ponto do Caboclo Akuan que cobre um buraco onde foram enterradas as armas do Orixá Ogum, sendo a segurança do terreiro e dela é que vem todo o axé da casa. Em volta fica a parte destinada à assistência. Nos fundos tem o roncó e a Casa dos Exus, sobre os quais falarei adiante. Quando se entra no terreiro no espaço destinado aos trabalhos, é respeitoso ir na estrela da segurança e batendo o dedo indicador sobre ele, leva-lo à testa, na cabeça e na nuca em respeito a segurança da esquerda, e cumprimentar mesmo mentalmente, saudando a Umbanda, o pai-de-cabeça e sua segurança da esquerda. É um ato que faz parte do ritual, simples mas quando feito com amor não deixa de ser uma demonstração de respeito com a Umbanda ou com o Orixá que se está cumprimentando. Defronte ao Congá, o procedimento é o mesmo.

PARTE ESPIRITUAL

A Constituição Brasileira garante a liberdade do culto das religiões. Vejam como a liberdade é difícil, pois uma Constituição tem que garanti-la, quando deveria ser o direito de qualquer cidadão sem a necessidade de estar sob a tutela de regras inseridas em Leis. Com a constituição em baixo do braço, a criação dos Terreiros de Umbanda fica subordinada a pequena esfera burocrática e a vontade de um grupo e uma mãe ou pai-de-santo. Eles variam nos rituais, mas um dos princípios já consagrado na Umbanda é que os terreiros têm a proteção de um dos sete Orixás e seus trabalhos sempre são abertos com a proteção da linha. No Terreiro do Pai Maneco, o chefe espiritual é o Caboclo Akuan, da linha de Ogum, à qual eu pertenço. Por isso que os trabalhos são abertos com a chamada desta linha, para depois ser chamada outra. No nosso próprio Terreiro, outros três dirigentes comandam outras giras, todos criados em nossa casa, mas com Orixás diferentes. A proteção da Quimbanda fica por conta do Exu Tranca Ruas das Almas, por ser o meu protetor na esquerda.

ENGOMA

Engoma é o conjunto de instrumentos que formam a música do terreiro. Tradicionalmente a base de toda engoma são os atabaques. Eles são considerados sagrados e são cruzados pelas entidades. Eles têm nome: Rum, Rumpi e Lê, o maior, o médio e o pequeno. No início a Umbanda não usava a música, só as palmas que mantinham o ritmo dos pontos cantados. Isso explica-se porque a Umbanda era proibida e o som na noite indicava os locais dos trabalhos que eram feitos escondidos. Até hoje no Terreiro N.S. da Piedade, o primeiro do Brasil e criado pelo sr. Zélio de Moraes, não existe o hábito dos atabaques. Eles foram trazidos para a Umbanda do Candomblé. Eu entendo a música como um elemento de ligação da corrente, uma harmonia vocal e um bem estar que se transforma em alegria. Por isso a engoma em nosso terreiro foi enriquecida, além dos atabaques, com outros instrumentos como o violão, o bumbo, o pandeiro, o chocalho, agogô, flauta, a cabaça e outros, inclusive um piano que é tocado em ocasiões especiais. Vamos introduzir também a cuíca para que intermediando os pontos tradicionais da Umbanda, seja cantado o samba , a nossa música brasileira dentro da religião também brasileira. Acho fundamental a qualidade da engoma e do bom gosto na escolha das músicas cantadas, inclusive músicas populares.

PONTOS CANTADOS

A Umbanda é regida pela música. Todo seu ritual é por ela comandado, o que se chama ponto cantado. Quando a corrente entra no terreiro já o faz sob o Hino da Umbanda, a defumação, a abertura dos trabalhos, o chamado dos espíritos para arriarem e subirem. Chamamos pontos de chamada ou linha. Ponto de linha é quando se faz o chamado dos espíritos em geral dentro de suas respectivas linhas. Quando se canta o ponto de linha, qualquer orixá da linha chamada pode arriar. Para eles deixarem o terreiro, canta-se o ponto de subida, é quando, em um terreiro organizado, todos devem se despedir sem a necessidade da hierarquia ordenar verbalmente. O ponto individual é para chamar um determinado espírito. Normalmente é ele quem deixa a letra e música que funciona como um mantra. Vou dar um exemplo: o José vai andando na rua quando alguém o chama pelo nome. Ele para em atendimento ao som de seu nome. Mas se ao invés de José for dito Pedro, ele continua seu caminho por saber que o assunto não é com ele. Com o espírito acontece o mesmo. A entidade está lá na Aruanda ou em algum lugar, quando houve que está sendo cantando em algum Terreiro o seu ponto individual, imediatamente ele atende e arria. O ponto cantado é muito respeitado pelas entidades e um não incorpora no ponto do outro. A não ser que não seja orixá e sim um obssessor.

TRONQUEIRA

Todo terreiro tem em sua entrada uma pequena casinha onde está assentada a segurança do Exu Tranca Ruas. Chamamos de Tronqueira. Dentro estão as armas do Exu, como a segurança do centro do terreiro, e permanece sempre alimentado com velas, bebidas, charutos e às vezes comidas. Sua função é cuidar da segurança externa do terreiro, por isso deve-se cumprimentá-la antes de entrar no terreiro.

Para entendermos os Orixás, temos que imaginar que todo o cosmo influencia o planeta Terra. Negar a influência dos astros em nossas vidas deitaria por terra a força que as fases da Lua exercem em todos os setores da Natureza, inclusive não haveria mais os lunáticos, aquelas pessoas que mudam de comportamento conforme a pressão da Lua. Vamos dividir esse Infinito em sete partes, e dar a cada parte um nome: Oxalá, Ogum, Oxossi, Xangô, Iemanjá, Oxum e Iansã.

Ogum é a vibração que atua no ferro, Oxossi nas matas e animais, Xangô nas pedras, Iemanjá no mar, Oxum nas cachoeiras e rios e Iansã no vento, chuvas e tempestades. Oxalá é considerado o Orixá Maior porque ele atua em todos os elementos através dos outros.

Essas forças cósmicas são os Orixás, e pelo sincretismo com a religião católica eles são representados na Umbanda por Jesus Cristo (Oxalá), São Jorge (Ogum), São Sebastião (Oxossi), São Jerônimo (Xangô), Nossa Senhora (Iemanjá), N.S. da Conceição (Oxum) e Santa Bárbara (Iansã). Essas são as linhas que cultuamos no Terreiro do Pai Maneco, mas outros terreiros fazem de forma diferente. O sr. Zélio de Moraes iniciou a Umbanda cultuando as sete linhas dessa forma: Oxalá, Ogum, Oxossi, Xangô, Iemanjá, Iansã e Exu. O sr. W.W. da Mata e Silva, uma figura de real importância na Umbanda, autor de várias obras, cultuava: Oxalá, Ogum, Iemanjá, Oxossi, Xangô, Yuri (linha do Oriente) e Yorima (linha dos pretos-velhos).

Seus seguidores, inclusive o sr. Rivas Neto, herdeiro da coroa do grande Mata e Silva, continuam nessa linha, que também é seguida na Tenda Espí rita São Sebastião, onde iniciei na Umbanda com o pai-de-santo Edmundo Rodrigues Ferro. Atualmente, um autor que tem merecido destaque é o sr. Rubens Saraceni, que cultua os sete Orixás da mesma forma que o fundador da Umbanda, sr. Zélio de Moraes. Por ser um tema de grande importância dentro da religião e cultuados de forma diferente por homens sérios e inteligentes, dá para se notar que a Umbanda ainda vai ter que se ajustar ao longo dos anos. Vale dizer que de forma alguma podemos dizer quem está certo ou errado, se todos atingem seus objetivos dentro da religião.

Por obrigação devo justificar a minha opção: acho que o número sete fez da Umbanda o seu limitador, e como tudo na Umbanda está firmado com esse número, não vou no momento contrariá-lo, para limitar os sete orixás cósmicos dentro do nosso culto. Acho que ele é um limitador, mas que não influi nos resultados da magia umbandista.

Perguntas sobre os sete Orixás Cósmicos da Umbanda

Pergunta: Pai de cabeça sempre é Caboclo. Então como existe filho de Omulu?

Resposta: Não cultuo Omulum como pai-de-cabeça. Essas distorções o tempo vai ordenar.

Pergunta: As Crianças, os Pretos-Velhos e os Caboclos têm pai-de-cabeça?

Resposta: O Preto-Velho quando era vivo tinha o seu Orixá como nós temos o nosso. Hoje como espírito um Preto-velho carrega seu Orixá, como o Pai Maneco que é filho de Iemanjá, mas trabalha na linha de Preto-velho e não na de Iemanjá.

Pergunta: Os Orixás do Candomblé são os mesmos que os da Umbanda?

Resposta: Só sete, pois o Candomblé cultua um número bem maior de orixás. Na Umbanda não tem sacrifício de animal, mas no Candomblé tem. Não sou contra o Candomblé, mas não posso permitir que tragam para a Umbanda algo que não é dela. O resultado final é o mesmo, mas o culto é diferente. Não gosto de entrega de carne, pois você está entregando uma vida. Sempre conto a história do Guru e do Pombo, onde fala que o preço de uma vida é outra vida.

Pergunta: Qual é a relação dos Orixás com o Kardecismo?

Resposta: No Kardecismo não se cultua Orixá, só o espírito. Eles não cultuam a vibração cósmica. Mas existem espíritos que trabalham tanto no Kardecismo como na Umbanda.

* Comentário do Pai Beco de Oxóssi: A minha visão de distinção entre a Umbanda e o Kardecismo é que na Umbanda há a manipulação das forças da natureza, enquanto no Kardecismo há a manipulação do ectoplasma, precisa do médium como doador de ectoplasma. O Candomblé tem diversos Orixás, pois as energias da natureza são muitas, mas a Umbanda determinou sete.

Pergunta: Quando foi introduzida a Quimbanda na Umbanda?

Resposta da Mãe Lucilia de Iemanjá: Já no início de fundação da Umbanda, tanto que na Tenda Espírita N.S. da Piedade, do Sr. Zélio de Moraes, eles cultuam os mesmos orixás que no nosso terreiro, diferenciando apenas que ao invés de Oxum existe a linha do Exu.

A comida que se oferece ao Orixá é o Amalá e é um grande campo de força. Muita gente pensa que a finalidade de um amalá é dar de comer aos espíritos. Erro grosseiro porque o espírito de luz não tem nenhuma necessidade de comidas humanas, por não terem mais o corpo físico. O amalá é um ritual que se faz com elementos que vibram na sintonia dos espíritos, que eles usam para criar um campo de força. O amalá reúne a força do médium, do Orixá e dos espíritos que vêm aceitar e se comprometer a executar o trabalho. Muitos pais-de-santo que por um motivo ou outro não possuem terreiro, trabalham com muita eficiência somente através das entregas aos Orixás.

Em momentos de dificuldade, para a cura da saúde, o equilíbrio e a paz familiar, levantar as forças pela energia, e muitas outras necessidades, um amalá bem feito e direcionado à entidade certa resolve o problema. Pela quantidade de situações fica difícil enumerá-las nesta oportunidade. Cada objetivo tem que haver um trabalho certo, com a entidade especialista, e tudo isso ainda sob a inspiração de uma intuição. Essa matéria deve ser analisada quando estivermos mais aprofundados nessas nossas conversações.

Vou fazer uma observação de grande importância: o umbandista pela sua religião que manipula e usa a natureza como para seus trabalhos é um ecologista em potencial. Qualquer material não biodegradável não deve ser deixado no local da entrega do amalá, exceto as velas que se queimam e derretem. Se isso não for possível a pessoa tem a obrigação de ir um dois dias após levantar toda a entrega feita. Os materiais usados nos amalás são: velas, charutos, cigarros, fumo, caixa de fósforos entreaberta, frutas, comidas e bebidas. Todo esse material são biodegradáveis. O alguidar que é onde se deposita a comida, segundo algumas correntes, forma uma ligação do amalá com o elemento terra por ser feito de barro. Mas se a entrega for feita no chão, o contato se dá mesma forma, razão porque recomendo que ao invés do alguidar, que se faça um canto bonito com folhas naturais, como folha de bananeira e outras de forma larga, e que se use uma porunga substituindo o alguidar de barro. Deixar ponteiro e facas que não têm nenhum efeito no amalá choca com a natural energia ecológica do umbandista. Copos de vidro ou copos de plásticos também caem no absurdo e no erro, por não terem nenhuma energia. Para a bebida deve ser usado um coitê e o que sobrar na garrafa deve ser jogado em círculo em volta do trabalho. Não vejo necessidade das fitas coloridas, se o trabalho pode ser cercado com raízes de folhagens extraídas do próprio mato.

  • Todo amalá deve ter um objetivo específico. Não se faz um amalá só por fazer.
  • O termo comumente usado para a feitura do amalá é “entrega”, o que não está errado considerando que estamos depositando materiais para os espíritos os transformarem em um campo de força.
  • Deve-se imaginar que durante a construção de uma entrega o amor e carinho daquele que o está construindo, de certa forma transmite sua energia. As vibrações do Orixá ajudam a aumentar a energia do trabalho que será somado com a do espírito que for utiliza-lo.
  • A intuição deve fazer parte da construção de um amalá. Existem receitas das entregas de cada Orixá ou espírito, mas ele não deve ser somente uma cópia. Alguns elementos que devem ser acrescentados nos amalás, desde que não fuja da vibração do orixá a quem se entrega, vem por intuição.
  • O médium só se tornará independente, ou seja não vai depender da orientação de um espírito incorporado, quando ele souber manipular os elementos que constroem um campo de força através do amalá.
  • Quando estivermos falando sobre os elementos usados na Umbanda, como o fundango, ponteiros, pembas e outros, vamos descobrir que eles dificilmente devem ser usados em uma entrega.
  • Quem faz uma entrega com materiais que possam agredir a natureza não deixa de ser um baita egoísta que não se importa com a humanidade e o semelhante.

Os escravos africanos por imposição de seus senhores eram obrigados a cultuar a religião católica. Para obedecerem a ordem, eles de um modo esperto ajeitavam sobre o altar um pano branco com as imagens dos santos católicos, mas em baixo do pano branco construíam os amalás de seus Orixás a quem cultuavam, com um olho no Santo e outro do Orixá. Com o costume houve o sincretismo com a Igreja Católica, até hoje respeitado pela Umbanda.

A influência da Igreja Católica foi tão forte que todos os rituais da Umbanda são muito parecidos, como o casamento e o batizado, as preces no congá e ele próprio com as imagens dos santos.

  1. Mencionei apenas alguns nomes de destaque como pregadores da Umbanda, apenas para mostrar que existem divergências entre os estudiosos da matéria. Se a confusão já começa no culto dos sete Orixás, é perfeitamente compreensível que também aconteça com o culto e sua liturgia.
  2. Continuando as divergências extraímos do livro Eu e a Umbanda, do pai-de-santo Edmundo Rodrigues Ferro, um quadro comparando os nomes dos Santos Católicos nos Estados brasileiros, onde inclusive não existe a unanimidade, ficando bem claro que esse quadro é apenas demonstrativo e pode estar incompleto.

Orixá Africano

Santo Católico

Estado

Ogum São Bartolomeu BA
Ogum Santo Antonio BA
Ogum São Jorge RJ – PE – PR
Abaluaiê São Francisco BR
Abaluaiê São Sebastião RJ – PE
Omulu ou Omulum São Lázaro RJ – PE – PR
Omulu ou Omulum São Bento BA
Nana Buruquê Sant´Ana RJ – PE – PR
Oxum Nossa Senhora das Candeias BA
Oxum Nossa Senhora da Conceição RJ – PR
Iemanjá Virgem Maria PR
Iemanjá Nossa Senhora da Conceição RJ
Iansã Santa Bárbara RJ – BA – PR
Oxalá Nosso Senhor do Bonfim RJ – PE – PR
Oxalá Jesus Cristo PR
Oxossi São Sebastião RJ – PR
Oxossi São Jorge BR
Ibeji São Cosme e Damião RJ – BA – PR – PE
Xangô São Jerônimo Vários Estados

Um fato que merece um destaque especial é a incontestável prova que a Umbanda já era praticada antes da data oficial de sua anunciação, tanto que ela, quando criada em 1908, já adotou o sincretismo com a Igreja Católica, quando sabemos que a escravidão já havia acabado com a promulgação da Lei Áurea em 13 de Maio de 1888.

Antes de analisarmos as entidades que trabalham na Umbanda, devemos ter um conhecimento superficial de alguns espíritos que coabitam conosco o planeta Terra. Eu entendi isso com uma experiência que jamais vou esquecer. Concentrado na mesa de trabalhos espirituais quando então eu era kardecista vi um menino de uns sete anos brincando com uma bola. Estava envolvido por um mundo de trevas que me assustou. Entidades feias e escuras estavam ao lado do garoto, que me pareceu estar correndo um grande perigo, pois julguei que ele estava sendo perseguido por essa turba desajustada e de energias pesadas. Nesse momento o guia explicou-me que isso era o que eu estava vendo, e ele iria mostrar-me o que o menino via.

Imediatamente a escuridão deu lugar a um sol lindo, os montes escuros se iluminaram e se transformaram em jardins floridos e encantadores, no horizonte dava para ver um céu azul e tranqüilo, uma suave brisa morna envolveu meu corpo e vi lindos espíritos que acompanhavam o menino brincalhão.

Entendi os dois mundos: conforme o meu estado, se triste e cheio de amarguras, eu me envolvo em uma vibração semelhante, mas se eu estiver alegre e com o coração voltado para Deus, posso enxergar a beleza de uma vibração espiritual. A partir desse momento eu tinha noção de avaliar as várias camadas espirituais e os planos que as entidades habitam. Isso é apenas uma pincelada de um mundo muito maior, mas achei interessante explicar para que seja entendido o funcionamento do mundo espiritual e como eles vivem nesses planos.

Um espírito quando desencarna, conforme seus méritos algum caminho ele vai tomar. Vejo muitas pessoas falarem que o espírito não pode se manifestar antes de três dias, ou como pode estar evoluído se desencarnou há pouco e assim por diante. No mundo espiritual não existe tempo e hora. Existe um ciclo evolutivo sem marcas, que poderia ser em nosso plano de um segundo até um século. Refuto as horas marcadas, e com as tais horas grande (meia noite) tão observada pelos umbandistas. Eu me atrapalho quando o governo resolve mudar para o chamado horário de verão, pois não sei se a hora grande será na meia-noite ou na primeira hora do dia seguinte.

Fiz essas menções para poder explicar sobre os espíritos. É muito comum quando alguém desencarna ele aparecer para várias pessoas em lugares diferentes. Falei já sobre a aura, ou seja a matéria, o duplo etéreo ou cascão, o perispirito e o espírito. Tudo que ocupa espaço tem um duplo etéreo, desde os homens, animais, plantas e todos os objetos criados. O que aparece para as pessoas é o cascão do desencarnado, que é quase material e logo de dissolve, como se fosse a tela de um lampião à gás. Daí em diante o espírito fica com o perispirito, e à medida que o espírito evolui, também vai desaparecer, até ficar só o espírito, aqueles que nós chamamos de luz.

Às vezes o espírito desencarna e não tem consciência disso. Passa a viver no mundo material, vai ao trabalho, fala com a família e fica irritado quando não lhe respondem. Ele vive como nós quando estamos sonhando, que mudamos de lugar e cenas repentinamente. Acho que posso dar esse exemplo com um filme que acredito que todos tenham assistido, e quem ainda não o assistiu que trate de faze-lo pelas locadoras de vídeos: O Sexto Sentido. Nesse filme o personagem vive no mundo dos encarnados pensando estar encarnado e ele só é visto pelo menino vidente.Tanto esse filme como o outro chamado Ghost · O Outro Lado da Vida, todos devem assistir. A felicidade dos diretores foi tão grande que eles se transformaram em filmes educativos para os aprendizes do espiritismo. Tudo perfeito e como realmente acontece.

Vamos deixar o grandalhão Bruce Willys de lado para voltar ao espírito que desencarnou e não sabe. Ele briga com toda a família porque sendo ignorado ele acredita estar sendo desrespeitado. O que se deve fazer para encaminhar um espírito desse tipo é apenas dar-lhe conselhos, afasta-lo delicadamente sem nenhuma evocação dos exus, pois é um trabalho para a Umbanda e não para a Quimbanda. Normalmente quando eles tomam o choque da realidade do desencarne, caem em profundo choro e são serenamente levados pelos espíritos guias que os levam às colônias e hospitais do espaço. Alguns deles, exercendo o livre arbítrio, apesar de saberem que desencarnaram continuam presos à matéria, alimentando seus vícios, desde o sexo até as drogas e bebidas alcoólicas. Eles induzem os encarnados fracos a se prostituírem, a beberem, a se drogarem e a outras infinidades de situações que não condizem com a ética humana e social. São mais difíceis de se convencerem, mas um dia outro acabam sendo levados pelos seus protetores.

Existem ainda os espíritos vingativos, que sabem que desencarnaram e prejudicam aqueles que eles entendem como seus inimigos. Um detalhe interessante é que os espíritos que querem viver junto à matéria, precisam da energia dos encarnados que funciona como sendo uma ancora e os prende aqui. Isso causa nos encarnados que doam essa energia inconscientemente situações de incômodos, desespero, sensações da morte e arrepios.

Dei pequenos exemplos para todos entenderem a complexidade do mundo espiritual atrasado dos espíritos comuns, familiares e que dividiam conosco o espaço físico do nosso mundo. Esses espíritos são facilmente encaminhados pelos guias e mentores espirituais, exceto quando eles tornam-se vitimas dos espíritos que formam o exército dos malfeitores do espaço, os inimigos do bem, os habitantes do astral inferior. São os espíritos animalizados, inteligentes e tentam destruir tudo que é bom. Os espíritos comuns são pequenas pombas sob a vista do gavião caçador. Ficam sem defesa, sofrem, são subjugados e acabam tornando-se soldadinhos dos generais da escuridão. Aí entra a Umbanda. Esse é o nosso trabalho e para isso a religião foi criada. Para combater as forças inteligentes do mal, aqueles que manipulam a magia negra, que amaldiçoam Deus e zombam do cristianismo. Eles criam campos de força de tal grandeza para a prática do mal, que só mesmo a Umbanda tem a capacidade, facilidade e inteligência para derrota-los, através da magia do preto-velho, do caboclo e do exu.

A permanente demanda da Umbanda é contra o mal, através da magia bondosa da ação e doces palavras desses Orixás que nos guiam e protegem.

  1.  Os espíritos para trabalharem na Umbanda têm que ter tido uma reencarnação dentro das características das entidades que fazem parte da religião. Digamos que um espírito desencarna, conquista sua evolução e está em condições de trabalhar incorporando um médium. Quer trabalhar como caboclo, mas se não tiver sido em vidas anteriores um deles, não tem como inventar um cascão, uma vez que ele não ocupou um corpo de índio. Chama-se ·usar o cascão de uma vida anterior· .
  2. Mesmo um espírito contemporâneo quando usa um cascão de vida anterior, vem com todas as características e a cultura daquela vida. Digamos que um médico que desencarnou neste século, se voltar como índio que desencarnou há século anterior, vai ser exatamente como viveu naquela época, apagando o seu comportamento como médico, embora possa, em outra linha, trabalhar como médico e não se comportar como índio. .
  3. Podemos separar de uma forma grosseira dois tipos de estágios dos espíritos: os sofredores, que são os espíritos comuns, e os malignos que são os que estão ao serviço da magia negra. Os primeiros podem ser atendidos pelo espiritismo tradicional, e os segundos somente através de trabalhos de construção de forças positivas, no caso a Umbanda.

Perguntas e respostas sobre espíritos

Pergunta: Como a gente faz para usufruir de alguns prazeres da vida com uma certa proteção espiritual?

Resposta: Tudo o que ultrapassa o razoável não é bom. Devemos perceber quando o prazer esta em excesso para domina-lo sem deixar este que ele se transforme em um tormento. Quando não se domina-lo, pode estar acontecendo a interferência de um espírito que partilha desse prazer, o que é um obsessor. Devemos ficar vigilantes para que isso não aconteça.

Pergunta: Qual a diferença entre possessão e obsessão?

Resposta: Na obsessão o espírito apenas dá a idéia de fazer alguma coisa, e a pessoa com seu livre arbítrio decide se faz ou não. Na possessão o espírito domina e toma conta da pessoa. São verdadeiros animais. Um exemplo é o de um menino de 14 anos que entrou carregado por outras pessoas no centro kardescista que eu trabalhava. Eu percebi que ele estava possuído por um espírito. Depois da realização de um trabalho o menino voltou a si e disse que não sabia o que lhe acontecia, mas sabia que um bicho grande e feio pulava nele.

Pergunta: Nós temos uma facilidade em absorver estes espíritos, mas como fica o nosso espírito? Ele é passível a isso tudo?

Resposta: O obsessor projeta o desejo e você exerce o seu livre arbítrio. No fundo o teu espírito é quem aceitou a idéia.

Pergunta: Nós temos as nossas obsessões. A possessão seria uma soma dos espíritos que obsidiam em uma mesma freqüência?

Resposta: Na obsessão você não é possuído, é um espírito que te incentiva, cabendo a você seguir os conhecimentos adquiridos na Umbanda e trabalhar o seu interior não permitindo ser dominado. Na possessão a vontade é única do espírito dominador.

Pergunta: Quando você vem para o terreiro, você não traz o obsessor?

Resposta: Na maioria das vezes.

Pergunta: Uma das funções do médium não é trazer este espírito para o terreiro onde ele será encaminhado?

Resposta: Sim, isto acontece mesmo. Mas não espere que o guia diga que você está com um obsessor. Você tem que pedir, não para que o levem embora, mas sim para que encaminhem este espírito para um lugar de luz. Eles estão sofrendo por não saberem e se conscientizarem da situação em que se encontram, que não tem nada a ver como que a pessoa viveu na terra evolutivamente. As pessoas morrem e os seus espíritos ficam uns com consciência do desencarne, e outros não sabem que desencarnaram e ficam revoltados com o estranho pouco caso que os encarnados lhes dispensam. Nós não podemos medir o estado do espírito pelo que ele foi quando ocupava o corpo carnal.

Pergunta: Eu imagino que quando eu entro no terreiro os espíritos atrasados que me acompanham serão levados embora mesmo sem eu pedir. É certo?

Resposta: Vão embora em termos. Por causa da tronqueira alguns espíritos não entram no terreiro. E quando você sai eles estão te esperando lá fora. Além disso, se você aceita um, obsessor você exerceu o livre arbítrio impedindo que entidades protetoras que possam afasta-los de você.

Comentário do Pai Fernando de Ogum:

Quando você está com um obsessor você começa a sentir o que o espírito sente. Mas se você percebe que é um espírito você não se deixar influenciar. Muitas vezes o espírito nem sabe que está causando algum mal. É normal uma pessoa desencarnar e querer ficar com a família por amor e hábito, causando a eles muitas inconveniências”

Pergunta: Como saber que a minha dor é devido à um espírito?

Resposta: Pela intuição e pelos sintomas. A intuição é muito importante no desenvolvimento mediúnico. Toda a doença tem sintomas, e a obsessão é uma doença espiritual e seus os sintomas iremos analisar mais tarde.

Pergunta: Eu acredito que a intuição é uma coisa nata, sem desenvolvimento. Estou correta?

Resposta: O treinamento da intuição é separa o real do irreal. Tem que saber quando é intuição e quando não é, senão a pessoa começa a entrar no mundo da ilusão e da criação imaginativa. A intuição é a percepção de um fato do presente. O passado e o futuro é devem ser desprezados na lida da intuição.

Pergunta: Podemos dizer que a maioria das coisas erradas que fazemos é influência dos espíritos?

Resposta: O espírito influencia porque você já estava errado. Vibração ruim atrai espírito ruim. O semelhante atrai o semelhante.

Pergunta: A obsessão só acontece com as pessoas que estão com baixa vibração? Ou os espíritos obsessores podem buscar a luz em algumas pessoas?

Resposta: Quando a pessoa se envolve com o alcoolismo ou a droga inicia-se um processo vibratório da baixa freqüência atraindo os espíritos que vivem nessa camada negativa podendo tornar-se uma vitima do assédio desses espíritos viciados, dificultando a cura de seu vicio.

Pergunta: Manifestações através de ruídos, barulhos, existem ou são apenas imaginações?

Resposta: O movimento da matéria por um espírito depende da criação de um campo de força (manipulação de energia, ectoplasma). São normais esses fenômenos físicos.

Pergunta do Pai André de Xangô: Quando esses fenômenos acontecem tem que ter deslocamento de ectoplasma. Uma vez foi feito um trabalho no terreiro para um bebê que estava com água nos pulmões, eu tinha em casa um aquário de vidro com 90L de água que esvaziou 3 vezes, eu colocava água e a água sumia. No dia seguinte o ronco estava alagado. De onde pode ter saído este ectoplasma?

Resposta: Nesse caso não é ectoplasma, é magia. No momento em que fizemos um trabalho criamos um campo de força que pode ter ocasionado isto.

Pergunta: Se eses barulhos ocorrem devido ao deslocamento de ectoplasma que pode ser direcionado para cura. Eu vejo espíritos todos os dias, principalmente à noite. Isso também pode ser direcionado para os trabalhos de cura?

Resposta: Esse tipo de mediunidade é muito eficiente para a cura. O Pai Maneco sempre diz que não existe um médico que atenda ou faça uma cirurgia sem um atendimento espiritual. Talvez isso ocorra, ou seja você está doando energias inconscientemente para que os espíritos possam trabalhar nos hospitais e consultórios médicos.

Pergunta: Pessoas que trabalham com massagens e praticam a Umbanda podem receber pessoas acompanhadas de obsessores. Elas não deveriam ter mais preparo e proteção espiritual para que isso não aconteça ?

Resposta: Espiritualmente as pessoas são preparadas na gira e mesmo em qualquer outra religião. O importante é o equilíbrio para não se deixar influenciar por espíritos ou por energias negativas.

Pergunta: Todo dependente químico sofre uma obsessão? Eu acho que algumas pessoas por seu próprio espírito se tornam dependentes.

Resposta: Não, a pessoa não é levada a se drogar por espíritos, mas passa a sofrer uma obsessão quando isso acontece. É como jogar mel no chão: ele atrairá abelhas.

Pergunta: A respeito do Psiquê. Até onde sou eu? Até onde é verdade? Onde é o começo e o fim da incorporação e da intuição?

Resposta: Quando você se propõem a entrar na gira você passa a desenvolver sua mediunidade. Você tem que relaxar e se entregar aos espíritos.

Pergunta: Ser médium pode ser um transtorno na vida da pessoa, até mesmo enaltecendo seu ego. Como pode acontecer isso?

Resposta: Médium todos são. A vaidade de cada um é problema de cada um. Se as pessoas aprenderem que não são auto-suficientes teriam muito mais segurança para fugir da vaidade. Por falar em vaidade, você sabe o que é que humildade? Segundo o Pai Maneco humildade é não julgar os outros.

Pergunta: Eu queria saber a respeito da loucura.

Resposta: Às vezes a pessoa é levada a loucura por uma influência espiritual. Se o espírito é retirado a pessoa se cura. Mas quando uma pessoa é portador de uma doença mental comprovada, os espíritos podem apenas ajudar a transmitir calma e amenizar o problema, mas dificilmente poderão cura-las. Nós ficamos penalizados com essas pessoas, mas temos que entender que eles vivem no mundo deles e devermos aceitar com fé o carma de cada um.

Comentário do Pai Fernando de Ogum:

O espírito está presente na matéria permanentemente atuando de varias maneiras. Deve-se tomar cuidado para separar o que é fantasia e o que não é. A mediunidade ajuda no desenvolvimento espiritual dos médiuns da seguinte forma: o ser humano tem todo um complexo interno de emoções onde os espíritos atuam até que ele esteja com todas as emoções e sentimentos no mesmo nível e em perfeita harmonia, o que criaria o homem perfeito, aquele que tem todas as emoções como a força, a determinação, o amor, a alegria, a humildade, a inocência, a fidelidade e a fé em todo seu potencial Maximo e harmonioso.

Pergunta: A humildade é só no julgamento ou pode ocorrer na prática?

Resposta: A humildade não é praticada, é inerente de cada um.
Comentário do Pai André de Xangô: Humildade é um estado de espírito.

Comentário do Bitty: Todo relacionamento gera Karma (tanto bom, quanto ruim). O exercício da humildade é neutralizar este Karma, não julgando. Prática devocional e sofrimento.

Pergunta formulada pelo sr. Rogger através do correio eletrônico:
“Somos todos espíritos e já fazemos parte da Eternidade, sendo que temos a chance de orientar, ajudar etc., os espíritos que se encontram em estados de obsessão, a se desapegarem das memórias de todo e qualquer fato que os mantenham ligados à dimensões que já não lhes comportam mais, incentivando-os à coragem para seguir seus caminhos…” Por que não se tentar trabalhar estes desapegos com os próprios espíritos encarnados, especificamente nós mesmos, que tanto tratamos os “desencarnados” como “inferiores”? (já presenciei várias vezes, prepotência, absurdo, isto) Por que, como espíritos parcialmente na Luz, não nos impomos nossa própria evolução (“forçando” os que nos “obsediam” nos nossos pequenos vícios sustentando-lhes estas fraquezas), interrompendo assim esta espécie de “ciclo” de dependências?? Como bem colocado pelo nobre colega Biti: Somos obsessores de nós mesmos! Penso que, se não tivermos a coragem de enfrentar nossas dependências, como fazemos com os outros, EM QUALQUER DIMENSÃO, além de demonstrarmos nossas fragilidades, estaremos nos candidatando a futuros/passados/futuros/passados… obsessores quando, abruptamente, seremos forçados a trabalhar estes desapegos pela falta de “veículo físico” para o suprimento destas, agravando, em muito, nossa incompetência em interferir em ciclos mais evoluídos. Fico indignado com as obsessões em crianças ainda, invadidos pelas falanges de dependentes, manipulados por comandos terrenos. Todas as drogas, principalmente as lícitas (fumo, álcool) tem, há muito tempo, contrariado a natureza humana. Onde está a evolução num plano mais elevado, ou melhor, o que nós estamos (espíritos encarnados) fazendo em respeitáveis Centros ou outros Portais dimensionais para “fechar estes ciclos”? Os Karmas nos serão perdoados, se nos esforçarmos para tal. Acredito que 03 fatos nos mantém na Roda da Reencarnação: Memórias (apegos), Missões (opções/compromissos) e “contas à pagar” (Karmas)… Muito me afetam as falhas no segmento Humildade, para mim, o maior sinônimo de Superioridade (temos o maior exemplo no Altar), quando nos deparamos com os verdadeiros “papas da sabedoria cósmica”, nos tentando impôr as maneiras de tratamento aos Espíritos de Luz que conosco colaboram no auxílio aos nossos irmãos menos privilegiados com o conhecimento sobre o Universo, o sentido da Existência, os Desígnios da Criação para cada um. Tratemos estes “papados” tanto como fragilidades, as mesmas das obsessões etc., quando poderemos realmente afirmar que “estamos fazendo nossa parte”…

Comentário: Estou de pleno acordo com os comentário do Rogger, exceto em duas questões: as crianças não sofrem obsessões espirituais por serem puros e isentos de vícios que possam motivar uma aproximação de entidades necessitadas, principalmente por sua aura ainda estar vibrando em outra faixa.

Ele menciona espíritos inferiores, devemos ter em conta que são inferiores aos espíritos de luz, mas não a nós encarnados porque vibram na mesma faixa, tanto que os vícios dos espíritos são idênticos aos nossos.

Sempre digo que o kardecismo é muito mais tolerante que a Umbanda. Na mesa um espírito incorpora, deixa uma linda mensagem de amor ou de advertência para os perigos mundanos sem a necessidade de dizer seu nome. Na umbanda, ele tem que incorporar no ponto de chamada, com a tipicidade da linha (caboclo, preto-velho ou criança), cumprir todas as ordens da hierarquia do terreiro, riscar o seu ponto individual, beber, fumar e dar seu nome, correndo o risco de, se não cumprir tudo, ser chamada a sua atenção.

Claro que tudo será feito com cautela e tempo de treinamento. Para chegar a isso, o médium passa uma dificuldade de saber o que fazer dentro do terreiro. Ele está incorporado com o Orixá, sentindo toda sua energia, mas ainda falta muito para dar o passo certo como cavalo bem domado, chegando mesmo em alguns momentos achar que o espírito se afastou, fato explicado pelo impulso mental do médium. Nessa parte quero chamar a atenção de um fato de grande importância. Dificilmente um médium é sonâmbulo (ou inconsciente, como alguns dizem), sendo o mais comum o médium consciente, aquele que sabe o que está acontecendo, mas não tem o controle das palavras e dos gestos.

É o que chamamos de terceira energia. Vejam como funciona: existe uma fusão do espírito do médium com o espírito comunicante, criando-se uma terceira energia. Gosto de dar exemplos. O café e o leite, separados, são puros. Misturados criam uma terceira bebida, podendo ser mais preto ou mais branco, conforme a quantidade das bebidas. Mas sempre, a união de ambos, terá uma terceira qualidade. É impossível a comunicação pura do espírito. O importante é a presença do espírito, com maior ou menor intensidade. Voltando ao médium perdido no terreiro, o seu impulso inicial é procurar alguém para lhe dar um passe ou tocar em sua testa. Muitos dirigentes não gostam desse procedimento e inibem o espírito de fazer isso, o que é um erro porque, talvez até mais que o próprio dirigente, é o espírito quem quer o desenvolvimento de seu cavalo escolhido.

Recomendo para minha hierarquia deixar que isso aconteça, sem exageros, é claro. Com o decorrer do tempo esse médium ganha um charuto, cachimbo ou cigarro de palha, conforme a entidade, e é quando ele começa a se acalmar, até procurar um lugar para sentar. Daí para riscar o ponto é bem mais rápido. Quero anotar aqui, para conhecimento dos médiuns em desenvolvimento, alguns erros que atrapalham bastante a evolução da mediunidade: não procurar, sob nenhuma hipótese, tentar adivinhar o nome do espírito; não querer riscar o ponto sem antes estar bem assentado com a entidade; não tentar dar avisos e recomendações a ninguém; não ter ciúmes do espírito e não pensar que ele é seu, porque espírito não tem dono.

  • É comum o médium incorporado procurar um amigo seu para lhe dar um passe ou falar com ele, e isso não invalida a incorporação e não quer dizer que foi o médium que procurou e não o espírito, principalmente porque a entidade, sabendo das dificuldades de seu cavalo, tenta de todas as formas facilitar a incorporação. Alguém já me perguntou como o espírito sabe que a pessoa é amiga do médium. Respondi convicto: mais do que o guia, ninguém conhece tanto os amigos de seu protegido.
  • É fundamental ao médium confiar nos dirigentes do terreiro. Incorporem que as pessoas responsáveis estão lhe cuidando. Eu, na primeira vez que fui ao terreiro da Umbanda, senti a incorporação e saí dando passes para o ar e quase caí dentro do Congá. Meu pai-de-santo carinhosamente ajudou-me a levantar e disse: “você não está na mesa kardecista, e sim em um Terreiro de Umbanda. Com o tempo você aprende”. E eu tinha vinte e cinco anos de experiência, o que me fez responder ao pai-de-santo: “estou nas suas mãos, vou esquecer momentaneamente tudo que sei do espiritismo”. E foi o que fiz, sem nenhum arrependimento. Fazia, sem questionar, tudo que o pai-de-santo mandava.

Na Umbanda, os médiuns mais comuns são os de incorporação e os de intuição”.

Perguntas e respostas sobre Mediunidade

Pergunta: Para os espíritos trabalharem dentro da casa na lei de Umbanda tem que se manifestar como Caboclo, como criança ou como Preto-Velho? Ogum é índio ou é um soldado romano?

Resposta: A característica de Ogum que vem com uma armadura é porque nós fizemos estes símbolos. A Umbanda é cheia de folclore, e o folclore é aproveitado pelos espíritos. Um Ogum é qualquer filho de Ogum. O simbolismo pode ser o Romano, mas o espírito incorporado é o Índio.

Comentário da Mãe Lucília de Iemanjá: tem horas que a gente tem que saber segurar a vibração.

Comentário do Pai Fernando: Tem que aprender a se curvar diante do ponto cantado. No ponto de Preto-Velho não pode vir um Caboclo. Quando se canta Iemanjá, tem que vir Iemanjá e não Iansã.

Pergunta: Mas pode acontecer de um Preto incorporar num ponto de Caboclo?

Resposta: Pode, mas está errado.

Comentário da Mãe Jô de Oxum: Se alguém em um trabalho precisa de energia de Iemanjá é legal que as pessoas da corrente se concentrem e tragam esta energia para fortalecer este campo de força que está sendo formado. Incorporar espíritos que não estão sendo chamados pode atrapalhar na formação deste campo.

Comentário do Pai André de Xangô: Quando se chama Iemanjá podem vir ondinas, sereias, caboclos e caboclas.

Comentário do Pai Fernando: A Umbanda é muito mais complicada que o Kardecismo, mas é mais fácil, pois não cai na mentira. O espírito tem que vir no ponto certo, riscar o ponto certo, beber a bebida certa. No Kardecismo é fácil a entrada de espíritos obsessores, mas eles são reconhecidos pois nunca falam em nome de Jesus.

Comentário do Pai Fernando: é muito importante a compreensão da existência de uma terceira energia. É como se fosse um café com leite, o médium e o espírito.

Comentário do Pai André de Xangô: uma incorporação é como se tivesse o espírito do médium e o espírito sozinhos dentro de um quarto (o nosso corpo). A melhor incorporação é aquela em que a pessoa consegue fica sentada e quieta em um canto do quarto, enquanto deixa o espírito fazer tudo que precisa. Eu me lembro de uma das primeiras vezes em que o Pai Fernando estava incorporando o Caboclo Akuan, o pai-de-santo Edmundo Ferro chegou perto dele e disse: “Fernando, sinta-se um Caboclo”

Comentário da Mãe Lucília de Iemanjá: Durante a incorporação não se deve ter vergonha, nem incorporar pensando no que o outro está pensando de você.

Pergunta: Como eu sei que um Caboclo é um Caboclo, que um Cigano é um Cigano?

Resposta Mãe Lucília de Iemanjá: Sob o comando da música.
Os Pretos-Velhos e os Caboclos podem trabalhar juntos, mas cada um vem em seu ponto de chamada.

Pergunta: Na incorporação de Ogum, faz três anos que eu giro, giro, giro e ele vai embora. Por quê?

Resposta: Pode ser que não houve a formação certa da terceira energia.

Comentário do Pai André de Xangô: O sentido do tempo também tem umas considerações. A umbanda não é como um curso que se você fizer direitinho no final do curso você vai receber um diploma. Na Umbanda não existe este tempo, cada um tem um tempo diferente.

Pergunta: Iansã tem necessidade de cumprimentar?

Resposta: Não, ondina não cumprimenta, pois ela é só vibração.

Comentário do Pai André de Xangô: Ondinas são elementares, nunca tiveram um corpo físico. O Caboclo Sete Pedreiras disse uma vez que todos nós somos protegidos pelos nossos próprios guias e pelos membros espirituais desta casa. Falou também que todo escudo é poderoso, mas é projetado para proteger o que vem de fora, se quiser fragilizá-lo é só atacar pelo lado avesso, que não tem blindagem. O que o caboclo quis dizer com isso é que o que enfraquece a gente são os nossos medos, as nossas angústias, coisas que estão dentro da gente.

Médium é aquele que tem a sensibilidade de sentir e intermediar o mundo espiritual. Existem vários tipos de mediunidade, como o de incorporação, de intuiçãovidência ocular e intuitivapsicógrafode efeitos físicos e mais uma porção de divisões. Como temos por objetivo a Umbanda, vamos estudar mais aqueles que são usadas tradicionalmente, que são os de incorporação e intuição.

Por não sentir nenhuma vibração, muita gente acha que não tem mediunidade. Acontece que muitas vezes a mediunidade ainda não foi mexida e ela fica adormecida até que uma energia qualquer, somada com a vontade e dedicação do médium, desperte essa sensibilidade. Existem pequenos sinais que são típicos de quem é médium. O primeiro deles é o medo. A pessoa tem medo porque acredita no mundo dos fantasmas, o mundo paralelo. Se ela crê nisso, é porque pressente a existência deles, não deixando de ser um sinal de fé. Aquele que não tem nenhuma sensibilidade, nada sente e nada percebe, é o que não tem medo. Arrepios, palpites e adivinhações, telepatia e outros dons semelhantes, são sem dúvida outra indicação da mediunidade.

A fé e a vontade de conhecer o sobrenatural é um típico indicio da mediunidade. Conheci vários médiuns que faziam parte da corrente e não sentiam a mínima vibração, e após alguns anos tornaram-se excelentes médiuns de incorporação e consulta. O interessante que o médium necessita de uma religião, seja ela qual for.

Tem pessoas que por comodismo dizem que acreditam em Deus e isso lhes basta. No fundo são médiuns, pessoas medrosas, que não têm a coragem de negar a existência do Criador, não por cultura religiosa, mas por inequívoca demonstração de recusarem um vinculo com as obrigações de um compromisso religioso. Os que mais sentem a manifestação dos espíritos junto de si, são os que, mais uma vez pelo medo, correm em busca das religiões para negarem a incomoda presença de um espírito junto de si. Existem manifestações dos espíritos em médiuns latentes tão impressionantes que se a família tiver preconceito com o espiritismo, acaba levando-os aos médicos e até a internação em hospitais psiquiátricos.

Conheci dois irmãos, com 16 anos e com 14, que eram dominados por espíritos tão animalizados que derrubavam os meninos e os deixavam no chão como se fossem animais, e entravam em violenta briga através de mordidas e arranhões, mas nunca com gestos humanos. Sua mãe, uma simplória senhora, guardou um pé de arruda ao seu alcance para que quando isso acontecesse, fizesse uma benção mágica que tinham lhe ensinado. Feito isso, os dois irmãos avançaram sobre ela, com as mesmas características de animais ferozes, arrancaram de sua mão o pé de arruda e o pastaram – se assim pode ser explicado, o que fez com que ambos, pela toxidade da planta, tivessem que ter no dia seguinte assistência médica para curar a dor de barriga.

Esses irmãos, após cuidadoso desenvolvimento mediúnico em nosso grupo, foram excepcionais médiuns, tanto que a moça incorporada deixava mensagens maravilhosas, toda ela em forma de poesia. Fiz essa pequena introdução, para chegarmos, por partes, até o método das incorporações.

Vamos iniciar com os médiuns novos, ávidos da espiritualidade conhecida através dos trabalhos de um grupo. Prefiro exemplificar o médium comum, aquele que não tem nada lhe incomodando ou prejudicando que o faça procurar cura no espiritismo. É o médium que gostou e se empolgou com a religião e algo lhe puxa para dentro da corrente, alguma coisa dentro do seu coração que lhe induz a acreditar nos espíritos.

O médium entra tímido, sente-se deslocado e algumas vezes até envergonhado, achando que todas as pessoas do terreiro a estão observando. Começa assim até ficar mais solto e à vontade, quando sente a vibração do terreiro e das linhas espirituais que estão trabalhando. Como sente arrepios, tonturas e até mesmo um certo descontrole, incorpora e sai andando no terreiro sem saber o que fazer. Aqui quero explicar às pessoas que os dirigentes, de qualquer terreiro, estão observando e cuidando para que o médium não caia, não se machuque e muito menos se exceda na incorporação. É o que chamamos incorporação na vibração, ou seja, o espírito está ao seu lado, mas ainda não incorporou como devia. Chama-se o médium de umbanda de ·cavalo·, acho que para podemos explicar bem como as coisas acontecem e para frente vamos explorar bastante essas comparações. Um cavalo ainda não domado é separado para a doma.

O domador, antes de montá-lo, com bastante paciência, ensina-o a usar o cabresto, o freio e com muita cautela põe sobre seu lombo a sela, para que ele sinta um leve peso, já o acostumando para finalmente ser montado. É o que acontece com o médium que incorpora na vibração. Vale dizer que o treinamento do cavalo é longo, levando, às vezes, meses para que o domador possa montá-lo. Com os médiuns é a mesma coisa: demora, por isso tenham paciência, mas de repente, em qualquer momento, o espírito incorpora em sua totalidade, e da mesma forma que o cavalo vai sentir um peso mais forte, o médium vai sentir a presença do seu com certeza maravilhoso orixá, e faz com que o médium passe a outra fase de seu desenvolvimento.

O médium na Umbanda é chamado de cavalo porque o espírito toma seu mental e também o corpo, diferente do kardecismo, no qual o espírito toma só o mental do médium.

Tem sido muito grande a migração para a Umbanda de médiuns da linha tradicional do espiritismo codificado por Allan Kardec. Eu não estranho porque eu fui um deles. Os que praticavam o kardecismo e hoje estão dentro da Umbanda levam uma grande vantagem no entendimento da religião porque é o espiritismo que lida com entidades comuns, que nós na Umbanda chamamos Eguns, e nesta religião é que se estuda com mais clareza a manifestação dessas entidades em nosso mundo material. Acho um erro grave e que deve ter destaque para quem ensina a Umbanda é que essa gama de espíritos tem vários estados de entendimento espiritual.

Os obsessores não são quiumbas ou trevosos como entende a Umbanda. Um desencarne pode deixar até espíritos de algum conhecimento espiritual em estado de confusão e que muitas vezes até mesmo não sabem que desencarnaram e continuam vivendo sua vida comum o que traz aos familiares um grande mal estar. É difícil avaliar e até mesmo enumerar a quantidade de transtornos causados por esses espíritos aos encarnados. Não são espíritos perversos e não querem fazer o mal, mas o fazem por absoluta falta de entendimento. Com esses espíritos é que a linha kardecista está mais ligada. Ao contrário, a Umbanda lida mais com espíritos em avançado estado de energia negativa, e têm consciência do que estão fazendo. Isso sem contar com os espíritos trevosos, que são os que estão à serviço da maldade e fazem parte do lado escuro do mundo espiritual. São espertos e planejam a forma como vão fazer o mal.

Por isso os médiuns devem saber com que tipo estão lidando, para não incorrerem no erro de, ao invés de salvar uma entidade dando-lhe luz e esclarecimentos, tratá-los como espíritos inimigos. São situações delicadas e importante para uma pratica de uma Umbanda segura e generosa. Muitos estranham que recomendo aos iniciantes na Umbanda a lerem os livros espíritas linha kardecista, porque além dos fatos que relatei a mediunidade é mais estudada sob a luz cientifica. Chamo a atenção de todos para um detalhe muito importante: os médiuns da linha kardecista têm um conhecimento grande, mas limitado porque não conhecem a Umbanda. Os umbandistas que conhecerem a linha kardecista e também a Umbanda são muito mais preparados.

Os espíritos que desencarnam e continuam com seus vícios aproximam-se dos encarnados usando-os como médiuns. A lei do semelhante funciona muito bem nesses casos. Uma pessoa que é médium e desconhece essa sua capacidade, envolve-se com bebidas alcoólicas, drogas, e outras situações não condizentes com o equilíbrio e a moral, atraem espíritos semelhantes, e ambos vivem juntos marchando para o caminho da perdição e do pecado. Com uma diferença: o espírito sabe o que está fazendo e o médium não sabe que está sendo usado.

Quem fuma cachimbo está sempre impregnado do cheiro da fumaça. O dentista quando sai de seu consultório exala o cheiro forte do remédio que usa em seus pacientes. Quando trabalhamos com a incorporação de espíritos os resíduos de suas energias ficam na nossa aura.

O acumulo sucessivo das incorporações deixa essas energias depositadas e em número cada vez maior. Se por um momento nós tivermos raiva de alguém e nossa energia for direcionada a essa pessoa, junto com ela todas as energias acumuladas engrossam o poder da vibração, podendo causar um mal imprevisível ao atingido, e isso sem nenhuma responsabilidade ou vontade das entidades. Por isso quando dizem que um Exu fez o mal, na verdade foi só o médium que usou da energia dele para provocar a maldade.

Vale aqui colocar uma ordem nessas palavras: Exu não faz o mal, por se ele fizer não será Exu e sim um espírito malvado se fazendo passar por ele. Por essas razões os médiuns da Umbanda devem ter a consciência para não terem pensamentos negativos contra ninguém. Meu pai-de-santo dizia: “médium de Umbanda está proibido de ter raiva.”

Um médium deve ser leal ao seu terreiro e jamais fazer trabalhos paralelos aos do terreiro. Muitas vezes alguns médiuns da nossa casa costumam fazer isso fora do terreiro, sem o conhecimento da hierarquia, a guisa de interesses pecuniários ou de alimentação do ego por se julgarem prontos e auto-suficientes para fazer trabalhos de magia sem a assistência de seus irmãos de corrente, da experiência de seu pai-de-santo e sem as seguranças que existem fincadas no terreiro.

Em toda a minha vida mediúnica eu nunca incorporei um espírito fora do Centro Espírita ou do Terreiro porque ninguém pode trabalhar sozinho. Normalmente eu os desligo da corrente por estarem impregnando seus irmãos com atitudes desse tipo. Entretanto, os médiuns que jogam cartas de baralho ou tarô, runas e outros tipos de atividades esotéricas têm a minha permissão porque não deixa de ser um treinamento leve para as suas mediunidades e por não estarem se envolvendo com o perigo dos espíritos malignos.

A bem da verdade sei que essas pessoas cobram esses trabalhos, mas não os penalizo por entender que se alguém quer saber de seu passado ou seu futuro tem mais é que desembolsar dinheiro. O Cigano com quem trabalho diz com muita graça: o cigano conhece o passado e o futuro dos outros para poder viver o seu presente.

A Umbanda é envolvente, misteriosa e leva muitas pessoas ao perigo do excesso quase chegando à beira do fanatismo. Um médium deve ter um equilíbrio em suas atividades, jamais deixando de cumprir suas obrigações sociais e profissionais e não viver todo o seu tempo cantarolando pontos de Umbanda e pensando em seus Orixás.

Tudo tem o seu momento certo e a religião deve ser vivida com absoluta harmonia com suas atividades cotidianas. Aos jovens recomendo continuar vivendo com seus amigos seja qual for a fé que eles tenham, não discutir a religião, ir aos cinemas, festas, fazer tudo que um jovem tem direito, inclusive estudar. Aos que têm família constituída, recomendo deixar as entidades no terreiro e em seu lar, embora com o coração sempre voltado para sua espiritualidade, vivam as vidas do cidadão comum. Já vi namoros, noivados, amizades e até casamentos se dissolverem pelo fanatismo.