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A ENTREGA – Por Carolina Wanderley

Há algum tempo, numa rede social com os médiuns da gira de segunda-feira do Terreiro do Pai Maneco, surgiu uma discussão a respeito de entregas e amalás. Tratávamos sobre os elementos que fazem parte dos amalás, o número de velas, coisas deste tipo. Era bem interessante, mas me pus a pensar num assunto primo deste: o conceito de entrega.

Quando vamos no dicionário, que é coisa que devemos fazer sempre quando queremos iniciar o mergulho em um conceito, percebemos que entrega se refere a algo que foi entregue, mas também ao ato de entregar a si ou a uma coisa.

E então quando eu entrego alguma coisa eu dou, passo às mãos, deixo de ter a posse sobre esta coisa e a transfiro seu domínio a uma outra pessoa. Ou quando entrego a mim, para qual propósito seja, também deixo que a outra pessoa tenha domínio sobre algum aspecto do meu ser ou do meu corpo, para algum fim específico.

Muito bem, falado isto tudo, gostaria de tratar aqui do ato de realizar uma entrega a um espírito. Quando pedimos alguma coisa no Terreiro, frequentemente nos orientam para que façamos uma entrega material no Jardim dos Orixás ou no Jardim dos Exus. Velas, amalás, não importa. Vamos lá, arriamos alguma coisa no chão, pedimos e deixamos a entrega.

Penso que não devemos olhar para trás quando saímos de perto do Amalá, nem voltar dali quinze minutinhos para acender uma vela eventualmente apagada pelo vento. Quando entreguei, acendi, fiz uma oração, está feito. Passamos do plano material para o plano espiritual, criamos um campo de força com o entidade e confiamos a ela a decisão de como e quando me ajudar naquele propósito ou pedido.

E a Umbanda é feita disso mesmo, de ritos materiais que nos ligam com o espiritual. Estou aqui procurando em livros e amigos letrados e googles da vida de quem é uma frase mais ou menos assim: o rito acende a fagulha do milagre. Não encontrei mas a frase é válida: seguimos um protocolo ritualístico e nos ligamos com o “meta-físico”. Estamos encarnados e precisamos iniciar nesta matéria que habitamos a viagem para fora dela.

Pois então: feito o amalá, realizada a entrega, eu não fico passando mensagens pelo wpp para a entidade para saber como anda aquilo que lhe pedi. Entreguei. Confiei. Vou continuar a tocar as providências práticas da vida, como tratamentos médicos, emprego, cuidado com as crianças e sei, porque tenho fé, que o espírito está me ajudando do modo como pode. Conforme o meu merecimento.

Para mim a beleza da entrega é isto: eu passo a um terceiro, uma entidade, um espírito de luz, a prerrogativa de verificar se tenho merecimento para tal graça. Eu entrego ao universo a decisão do que vai acontecer comigo, logicamente, prosseguindo nas providências práticas conforme eu já mencionei.

Penso que isto é entrega então: uma ligação iniciada na matéria passando ao espiritual a decisão sobre um pedaço da nossa vida. Para que eu me alinhe com os desígnios deste universo. Me submetendo, fluindo. Sendo universo. E isto é lindo ou não é?

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