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UMA CASA SÉRIA

Por Pai Leonardo de Oxóssi

Exceto domingos, tem ‘gira’ todos os dias no alto Santa Cândida, Estrada Nova de Colombo. É o Pai Maneco, um terreiro bem conhecido. E é a nossa casa, a fraternidade que escolhemos e que nos acolheu. É a Umbanda pés-no-chão que Pai Fernando ensinou. Séria e alegre ao mesmo tempo, limpa e aberta como deve ser, um lugar onde os orixás têm morada e onde quem manda são os espíritos.

Nesse ano de 2016, milhares de pessoas passarão por nossa casa trazendo carências, dores e expectativas. Muitos ainda trarão uma ‘fé em botão’, que se abrirá ao som dos atabaques, mudando suas vidas enormemente. Cabe a todos os filhos da casa fazer jus a essa demanda sagrada, servindo os orixás da melhor maneira possível. O resto eles fazem, por ordem lá de cima. Quem veste branco tem compromisso de trabalho e toma parte em uma causa que, se no princípio ainda pode não ser a sua, com o tempo passará a ser, dentro e fora do terreiro, ou a pessoa acaba desistindo.

Vamos lá, com a humildade necessária, cumprir nossa parte. Deixar a “parte feia” da Umbanda cada vez mais bonita.

Bom ano de trabalho a todos!

UMA CASA SÉRIA

– Oi amiga, porque você não tenta ajuda no Pai Maneco? Você conhece lá?
– Não, não conheço, mas já ouvi falar bastante.
– É Umbanda séria, sabe? Não matam bicho, não fazem amarração e essas coisas. É o que dizem, também nunca fui, mas sou louca de curiosidade de conhecer.
– Você sabe o que estou passando, né amiga? Não quero me expor se não for num lugar muito confiável, entende? Como posso ter certeza de as pessoas são sérias mesmo nesse tal de Pai Maneco? Podem ser só um bando de surtados, né? E a energia, como saber se a energia é boa mesmo?
– Entendo. É difícil saber, né amiga? O espiritismo é uma coisa invisível, dá um pouco de medo mesmo.
– Meu pai quando era vivo já dizia: “muita bondade faz a gente desconfiar. Fruta madura na beira da estrada, tá bichada ou tem marimbondo no pé!”
– Vamos lá descobrir?
– Ai, será? Me deu até um frio na barriga!
– Primeiro a gente vê o jeitão do lugar e eu dou um jeito de descobrir se é confiável. Se passar na prova, você tira uma consulta.
– Tá, eu topo!
– Combinado então! Te pego às sete e meia.

—–
– E então amiga, o que descobriu? Com quem você estava conversando?
– Era um pai-de-santo. Perguntei para umas pessoas de branco quem que conhecia do riscado para me explicar algumas coisas e me apontaram ele. Então fui lá, disse que era a primeira vez que eu vinha aqui e perguntei como saber se esse lugar é sério.
– Caraca, amiga! Perguntou assim, na lata? E ele não se ofendeu?
– Não. Achou graça do meu jeito eu imagino, porque deu uma risada na hora.
– E o que mais ele disse.
– Disse que é fácil saber se uma casa de Umbanda é boa: basta prestar atenção nos médiuns. “Se tiverem brilho nos olhos é porque a casa é boa!”.
– Só isso que ele disse?
– Não. Disse também para prestarmos atenção nos médiuns durante o ritual. Perceber se eles estão compenetrados ou distraídos. Se eles cantam os pontos com vontade, se conversam pouco e se fecham os olhos na hora em que se saúdam os orixás e as entidades. Disse que se a gente ver isso podemos ficar tranquilas. Se não, é para irmos embora.
– Interessante. Quer dizer que uma casa boa depende das pessoas, não das entidades?
– Fiz essa mesma pergunta para o tal pai-de-santo. Ele explicou que a Umbanda tem dois lados, um bonito e um feio, e que o bonito é o dos espíritos. Disse que o umbandista é o funil do orixá, porque esse não tem tamanho de tão grande que é. Então que se a parte humana for séria e humilde, a casa é sempre boa.
– Já peguei uma senha, amiga… enquanto você conversava com o pai-de-santo. 54. Acho que vai demorar um pouco para chegar a minha vez.
– Mas você não disse que não exporia sua vida em um lugar qualquer, amiga? O que te fez confiar?
– Senti arrepios quando começaram a tocar os atabaques. E quase chorei quando começaram a cantar o hino de abertura. Estamos no lugar certo. Eu confirmei isso ao perceber uma mistura de seriedade e alegria nessas pessoas de branco. Dão a impressão de estarem aqui por pura fé, de que são movidos por amor ou algo assim. Veja a felicidade com que cantam as músicas! Estou muito à vontade aqui e ansiosa pela consulta!
– Também peguei uma senha depois de conversar com o pai-de-santo. 112.
– Melhor chegarmos mais cedo semana que vem, né amiga?
– Certeza, amiga. Te pego quinze para as sete!

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