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Educando para a Paz

Resolvi começar esta coluna a convite do Pai Fernando, falando sobre este grande amigo que desencarnou em 27 de setembro de 2008 porque acredito que a tolerância às diferenças e convivência pacífica são temas que a Umbanda nos ensina diariamente e que necessitamos continuamente exercitar e que este amigo sabia fazer muito bem, na teoria e na prática.

Xesus Jares foi um grande educador galego. Foi um dos grandes nomes da educação para a paz e os direitos humanos. Professor Catedrático da Universidade da Coruña (Espanha) é fundador do Coletivo de Educadores pela Paz e foi presidente da Associação Galego-Portuguesa de Educação para a Paz. Coordenou mundialmente diversos projetos e programas de Educação para a paz e para os direitos humanos. Jares publicou dezenas de livros e artigos e muitos deles foram traduzidos e publicados no Brasil, como o clássico “Educação para a paz: teoria e prática” (Editora Artes Médicas, 2002).

Jares defendia que é necessário ensinar a paz e o respeito às diferenças desde o inicio da vida escolar. Pacifista apaixonado militou em diversas causas e movimentos humanitários, ecológicos e pacifistas e pela cidadania solidária. Não defendia a paz ingênua e resignada, ressaltava que era preciso ter justiça social, cultura, saúde e trabalho dignos para que se possa falar de paz. Era vital aprender a conviver e para isso era decisivo resolver adequadamente o conflito. O conflito era algo desejável e valioso desde que aprendêssemos a resolvê-lo adequadamente, como exemplifica o quadro abaixo:

FAVORECE A RESOLUÇÃO IMPEDE A SOLUÇÃO
Acalmar-se Insultar
Escutar o outro Ameaçar
Respeitar as diferenças Culpabilizar
Separar pessoa e problema Acusar
Focalizar o problema Desvalorizar ou Destituir
Democratizar a própria posição Julgar e manipular
Saber se desculpar e reconhecer erros Cristalizar a própria posição
Propor soluções possíveis e compartilhadas Generalizar e estereotipar
Buscar acordos e respeitá-los Ser violento ou preconceituoso
Ter espaços, organização e tempo para resolver os conflitos Evitar responsabilidades e atitudes efetivas

As obras que este educador escreveu não foram vazias e incoerentes com suas palavras e atitudes. Nunca combateu a intolerância e o preconceito com mais intolerância e preconceito. Mostrava cientificamente e filosoficamente como construir uma cultura de paz. Apaixonado pelo Brasil e por sua cultura diversa e rica nos visitou diversas vezes.

De fato, educar para um mundo melhor significava conhecer o aluno e o contexto em que esse aluno estava inserido. Além de conhecer, é necessário respeitar e contribuir para a inclusão escolar e, principalmente, social desse aluno. Não são mudanças fáceis, mas cada vez mais urgentes. Só assim se pode ler continuamente e criticamente o mundo. Em tempos de desesperança e resignação e de uma opressão sutil e disfarçada, cabe a educação escolar e familiar resgatar o respeito pelas pessoas, pelos animais e pelo planeta.

Infelizmente, outras grandes obras aguardam publicação por aqui, tais como: “Pedagogia de La Convivencia” (Editora Braó de Barcelona, 2006) “Educar para a Verdade e para a Esperança em Tempos de Globalização, Guerra Preventiva e Terrorismo” (Editora Artes Médicas, 2005).  Não foram publicados no Brasil, mas são igualmente importantes as obras: “Educacion y Derechos Humanos” (Editora popular de Madrid, 1999, “Aprender a Convivir” (Editora Xerais de Galícia, 2006), entre outras.

Resolvi começar esta coluna a convite do Pai Fernando, falando sobre este grande amigo que desencarnou em 27 de setembro de 2008 porque acredito que a tolerância às diferenças e convivência pacífica são temas que a Umbanda nos ensina diariamente e que necessitamos continuamente exercitar e que este amigo sabia fazer muito bem, na teoria e na prática. Podemos ensinar a paz, sabendo mediar os conflitos que podem aparecer com a convivência. Paz não significa ausência de conflitos, mas a resolução deles por meio do diálogo.

Sidney Oliveira
Pós-doutor em Economia da Educação (USP)
Doutor em Psicologia Social (USP)
Professor Associado da UFPR

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