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Um trabalho de cura muito especial

por Paulo Fabiano Mehl, com Pajé Aimoré (Caboclo de Ogum) ou Caboclo das Penas (Caboclo de Oxóssi) não sei qual dos dois trabalhou desta vez.

Desde que vocês nos pediu um texto sobre a Umbanda, já fiz vários rascunhos. Primeiro escrevi sobre minha vida na Umbanda desde o meu batizado lá pequenininho e todas as minhas aventuras até hoje, mais não achei legal. Depois escrevi algumas coisas sobre as religiões afro aqui de Pernambuco, mais achei que tinha fugido do tema. Também rascunhei meus tempos no Terreiro do Pai Maneco, e estava quase pronto para ser enviado, restava apenas uma releitura para acertar a pontuação e trocar algumas palavras, coisas básicas.

Mais na noite desta segunda feira dia 14-11-13 por volta das 20:00 horas, eu tive um stress muito grande que culminou com mais uma tentativa de suicídio em vão. Nestas horas eu sempre recorro ao TPM pedindo um pouco de luz.

Depois de muito choro, depois de André conversar com meu psiquiatra, depois de parecer que eu tinha levado uma surra enorme, André conseguiu me acalmar e eu dei uma breve cochilada e neste breve sono eu fui parar no meio do Terreiro trabalhando, e agora vou começar o meu texto sobre a Umbanda.

Estávamos todos de branco reunidos como em todas as gírias, as músicas para Ogum rolando solta e todos os médiuns incorporando os seus guias, neste dia como não é comum eu demorei a dar passagem, fui o último já depois deste primeiro instante.

E quando toda a assistência se preparava para entrar, eis que quem entra para receber o trabalho de cura com sua calça branca e camiseta de Ogum vermelha o saudoso Pai Fernando, tudo muda, todos se olham alguns choram, alguns ficam atônitos, outros se olham, mais ele na sua simplicidade e sorriso farto pede apenas uma banquetinha para poder sentar no meio do Terreiro pois ele estava precisando de energia, uma cambone logo se prontificou a coloca-lo sentado.

Bastou ele sentar e antes que qualquer pai ou mãe de santo ou até mesmo algum capitão se aproximasse meu caboclo se aproximou e começou a trabalhar com ele, e ambos conversaram muito em alguma língua indígena que eu não sei qual é, outros tentaram se aproximar mais Pai Fernando pediu para que aquele momento fosse nosso e todos respeitaram e começaram a irradiar muita luz para nós.

O meu caboclo não era mais eu e sim ele pois pela primeira vez o vi trabalhando com todas as suas indumentárias lá no Terreiro, ele estava vestido apenas com suas penas e não sei por qual motivo desta vez quase todas eram brancas com algumas penas azuis, verdes e amarelas, ele dificilmente usa muitas penas brancas, normalmente ele vem com penas vermelhas e algumas de outras cores.

Alguns instantes depois da conversa inicial o trabalho começa propriamente dito, de posse de duas pembas uma branca e uma verde, ele faz um circulo em torno de Pai Fernando metade verde e metade branco mais com duas pontas uma apontando para a porta principal do Terreiro e outra para o o seu lugar (lugar de Mãe Lucilia). Dentro dele duas flechas uma verde com folhas e uma branca com penas, embaixo dele.

Eu sou péssimo para desenho, caso contrário desenharia aqui o ponto que ele fez pois tenho ele na cabeça ainda pois foi lindo.

Ainda nesta conversa indígena, que eu gostaria muito saber o que eles conversaram, mais eu não entendi nada, uma pena, o Caboclo pediu uma banana, duas margaridas e três velas brancas.

Onde encontrar banana? Onde encontrar margaridas? Ainda bem que temos assistência e sempre temos alguém que pode nos ajudar a ajudar alguém e todos os pedidos por mais inusitados e imediatistas que foram, puderam ser atendidos.

Como as energias suas já estavam conectadas e isoladas, o caboclo começou a limpar e energizar o Pai Fernando.

Neste momento ele risca novamente um ponto ainda mais lindo sobre uma tábua, com muitas flechas e arcos apontando para todos os lados, ao redor deste ponto foram colocadas fatias finas da casca de banana. A Banana também foi usada no ponto, ele dispensou as pontas, não sei por que, e cortou a banana no seu comprimento e não em rodelas como é comum, cortando em tiras finas, o que ele usou para fazer um grande arco e uma flecha e para circular as velas, uma margarida ficou na ponta desta flecha, pois hoje era dia de paz. Duas velas foram colocadas no ponto e uma ficou acesa fora do ponto mais dentro do grande circulo junto com uma margarida.

Mais uma irradiação e conversa no dialeto deles dois e foi então que você Lucilia foi chamada, o caboclo a cumprimentou pediu para que não entrasse no circulo, fez uma energização para você também, todos já muito emocionados entenderam que o trabalho estava por se encerrar.

O Caboclo retornou ao grande circulo e começou a trabalhar com suas energias, Pai Fernando acenou a todos se despedindo, deitou e logo o vi flutuando a mais ou menos um metro do chão, o Caboclo olha para você, Mãe Lucilia, e como se recebe-se sua permissão ambos partiram, subindo lentamente ainda mais um pouco até o topo do Terreiro e saindo rapidamente pela porta, tudo que estava dentro daquele circulo foi junto com ele, com exceção feita a vela e a margarida.

Foi aí que retomei minha consciência, já ajoelhado no meio do Terreiro vestido a caráter batendo minha cabeça, sento no chão sem saber ao certo do que aconteceu, pois vejo todos com diferentes daqueles que eu vi a instantes atrás, instantes nada, o trabalho durou foi muito tempo, nesta noite não teve outro tipo de atendimento, pois já se passavam de onze horas e a comoção era enorme, fui lhe entregar as duas recordações deixadas para você do trabalho feito, a vela envolta nas tiras da banana e a margarida e ganhei um grande abraço seu o que me fortaleceu muito. Logo em seguida eu acordei, muito mais calmo e tranquilo.

Este é o meu relato sobre a Umbanda, não sei se fiquei dentro do assunto mais tinha que compartilhar contigo.

Como este texto eu sentei hoje pela manhã escrevi e somente dei uma leitura básica por cima lhe enviei, agora mais tarde relendo me surgiu uma dúvida.

Pois as únicas pessoas nítidas na cena eram eu, você, seu pai e o caboclo quando incorporado.

Não lembro ao certo quais músicas tocavam na hora, eu escrevi que eram de Ogum, mais pela descrição das vestimentas e as pembas por ela utilizadas eu acho que eram meu caboclo de Oxóssi, e por isto que eu nunca tinha o visto, pois eu até então apenas o sentia, o que agora esta tornando o momento ainda mais especial para mim.

Pois foi como se fosse a minha despedida para com o Pai Fernando. Acho que foi ele na verdade quem veio me dar uma luz para eu esquecer o que eu pretendia fazer e repensar no meu futuro e resolver reviver tudo novamente. E todo aquele trabalho feito, foi para ele e meu caboclo levarem todas as energias negativas que existiam em minha volta.

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