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Ogan Kaian

Ogan Kaian

Estou tentando absorver tudo o que aconteceu na Gira de segunda.
Uma gira que eu estava em dúvida de ir, pois estou com muito trabalho por fazer e achei que seria prudente pular uma segunda-feira para resolver meus problemas de caráter profíssional.
Depois de uma conversa com minha mulher, resolvi ir sem pensar em muita coisa. No caminho da gira, com o horário apertado e sabendo que não iria chegar na abertura dos trabalhos, comecei a ficar nervoso. Uma angustia começou a tomar conta de mim. Pensei: Quando eu chegar no terreiro vai passar, é somente vibração.
Como sempre faço, tento entrar no clima fechando os olhos e mentalizando uma gira boa para mim e para meus colegas de fé. Deram inicio os trabalhos. Começaram os pontos de Ogum e a vibração que eu sentia sumui. Não sentia mais nada. Resolvi cantar junto com os Sambas do terreiro. De repente, sinto uma vibração que vinha do chão até as minhas mãos.
Opa! é Ogum! Tudo que precisava. Vai me botar nos trilhos.
Esse Ogum veio forte. Parecia que eu tinha um motor de caminhão dentro do meu peito. Urrava como um leão. Eu como médium pensei: Deve ter uma demanda especial, uma cura pra fazer ou um espirito que precisa de ajuda. Incorporado desse Ogum, fui até o meio do terreiro.
O Ogum não queria fazer nada. Não queria dar passes e nem falar com ninguém. Sentei no chão do terreiro e vi que ele estava indo embora. Dentro do meu peito um aperto e um choro inexplicável. Alguma coisa está errada. A mãe Pequena Camila acompanhava tudo, como sempre, atenta aos médiuns do terreiro. Sentado no chão olhei pra ele e perguntei: O que é isso? E ela me respondeu: Seu Ogan Kaian!
Comecei a chorar novamente sem controlar minha emoção. Nessa hora apareceu Seu 7 Ponteiras do Mar, incorporado na nossa Mãe Lucília, e disse: Ogan Kaian, filho. Eu chamei ele. Precisava dele aqui.
Fui para o meu lugar meio confuso e emocionado. Seu 7 Ponteiras fala comigo: Cante seu ponto de Cigana pra se acalmar depois vou chamar seu Ogan Kaian.
Eu continuava vibrando com aquele energia que não cessava. Cantei o ponto que fiz, junto com meu amigo Boquinha, para os ciganos e ciganas trabalharem no terreiro.
Terminado o trabalho com os ciganos, o Ogum chefe dos trabalhos, Seu 7 Ponteiras do Mar diz: Ogan Kaian!
Naquele momento, eu já estava sentindo o motor de caminhão novamente no meu peito. Sentia fogo e a terra tremer de tanta energia. Não demorou e Seu Ogan Kaian começou a trabalhar.
Primeiro, foi até a engoma e abriu os braços como se fosse abraçar todos com sua energia. Depois, retirou um dos atabaques, abraçando-o como se fosse um filho seu. Era o Rum, o maior dos atabaques, que tem o som mais grave e responsável direto em puxar a primeira batida para os pontos de trabalho. Ele colocou o atabaque no centro do terreiro e chamou um dos Ogans para tocar. Este primeiro Ogan eu vi ser envolto em um círculo de fogo que vinha da terra, passava pelo tambor e voltava para a terra. Seu Ogan Kaian fazia eu ver esta imagem nitidamente. Foram chamados todos os Oguns do terreiro.
Eu vi todo o terreiro tomado por Oguns de todas as formas e tipos. Não só na corrente, mas a assistência estava tomada por Oguns. Terreiro de Ogum com lotação. Ele chamou os outros Ogans que levaram seus atabaque e se juntaram ao outro que já estava no meio. Ele recebeu uma pemba e cruzou os atabaques. Em seguida os Ogans.
Depois de ter feito este lindo gesto, tão importante para o terreiro, ele pediu para transmitir uma mensagem. Confesso que não lembro de tudo, mas vou tentar escrever o que consigo lembrar.

“Nessa casa, Ogum vibra com o tambor.
Se o atabaque não toca direito, Ogum não trabalha direito“

Ele falou sobre os elementos que davam harmonia para a Terra e comparou com a harmonia do nosso terreiro.

“Na Terra tem terra, fogo e água, tudo vibra na mesma harmonia.
Não pode ser diferente nessa casa“

Ele mencionou o nosso chefe, Seu Akuan, mas confesso que não lembro o que ele disse (Se alguém lembrar, me diga).
Depois de todos estes acontecimentos, ele se despediu de todos e subiu.
Mesmo depois de sua subida eu tinha uma mistura de sentimentos e continuava chorando, tremendo, rindo em estado de perplexidade.
Após me acalmar e receber o auxílio dos meu amigos de corrente, fui para o intervalo da gira com vontade de ir embora. Eu estava cansado! Mas feliz por ser útil para este terreiro que tanta alegria me dá.
Fui para casa pensando e tentando lembrar das coisas que ocorreram naquela gira.
Chegando em casa troquei de roupa e fui tentar dormir. Eu sabia que tinha mais coisa por vir.
Pensei que esse caboclo estava ainda me rodeando. E estava.
Seu Ogan Kaian entrou em contato comigo através dos meus pensamento e intuição e esclareceu algumas coisas. Que talvez não sejam pensamento comum e gerem alguns questionamentos, tanto meus, como dos dirigentes do terreiro. Mas foi tão claro e coerente, que resolvi arriscar e passar a mensagem para frente.
Ele disse a função de cada atabaque no nosso terreiro. Eu acho que isso não se aplica em outras casas.
Vou tentar explicar como eu entendi intuitivamente o que ele me revelou:
O maior dos atabaques, o Rum, vibra na vibração de Seu Akuan, o Ogum chefe do nosso terreiro. A explicação é que este atabaque tem o som grave e forte, tem a força do fogo, vibra nas profundezas da terra, nas lavas vulcânicas, no magma da terra. Onde a rocha e o ferro são fundidos. Energia de Ogum.
Por isso este atabaque é do Seu Akuan. O primeiro atabaque é o início de tudo.
O segundo atabaque, o Rumpi, vibra na vibração do Caboclo da Cachoeira. Energia de Xangô. A explicação é que este atabaque representa o som das rochas, a energia que assenta e dá alicerce de sustentação à Mãe Terra. O Rumpi tem que estar em harmonia com o Rum, pois devem fundir suas vibrações, como a rocha, o ferro e o fogo.
O terceiro atabaque, o Lé, seria a energia de Seu Junco Verde. O Caboclo de Oxossi. Este atabaque tem a suavidade do caçador, representa o homem fazendo o uso da terra com sabedoria. Colhendo ou caçando. O Lé é o atabaque mais agudo e estridente. É como a ponta da lança ou flexa do índio. Vibra nas matas, lagos e rios, no vento e nos mares. É a vibração mais próxima do homem. O Lé deve estar em harmonia com os outros dois atabaques, pois representa o homem em harmonia com a Terra.
Todas estas entidades trabalhavam no Terreiro do Pai Maneco com Pai Fernando. Por este fato, acho relevante e surpreendente esta “concidência”. É como se estas entidades tivessem a função de dar rítmo e a vibração certa para todos os trabalhos realizados neste terreiro. Claro, sem desmerecer nenhuma outra entidade. Por este motivo, acho que não se aplica em nenhum outro terreiro. Mas como eu só conheço um, não faz a menor diferença.
Isso explica muita coisa que aconteceu hoje!!

A última coisa que pensei antes de fechar os olhos e finalmente dormir:
Saravá Seu Ogan Kaian!!

João Soto
Gira de Segunda-Feira

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