fbpx

AGRADECIMENTOS AO PRIMEIRO ANO DE TERREIRO E GIRA DE BOIADEIROS – Por Rodrigo Poli

Então… os acontecimentos da gira de ontem (Gira de Cigano do dia 13/06/2016) me motivaram a escrever este email (texto), mas não para reclamar, muito pelo contrário, só tenho a agradecer. Esta semana faz 1 ano que frequento a Umbanda do Terreiro do Pai Maneco e deu vontade de contar minha história neste curto período que parecem anos. Período este que em diversas áreas está sendo muito difícil, complicado, mas que espiritualmente está sendo maravilhoso e de onde tiro forças, esperança, tranquilidade e principalmente muita fé para as batalhas do dia a dia. Resolvi fazer por escrito porque pessoalmente seria difícil conter a emoção. Também levaria muito tempo falando e mesmo assim não conseguiria colocar em ordem nem expor com clareza de detalhes tudo que passei e senti. Momentos marcantes proporcionados nesta casa.

Sou de origem católica, do batismo até a crisma, mas sempre frequentei a igreja mais por obrigação, nas catequeses, casamentos e demais missas levados pela família ou mera companhia para minha avó ou minha mãe. Lógico, nunca deixei de ter fé, mas não era uma coisa muito espontânea. Um exemplo é que nunca fui sozinho numa igreja simplesmente porque deu vontade de rezar. Também nunca tive nenhum preconceito com nenhuma religião. Na umbanda tinha amigos que frequentavam o Terreiro do Pai Maneco, desde assistência, médiuns, corrente e até dirigentes. Sempre tive muita curiosidade e numa segunda-feira, dia 8 de Junho de 2015, fui enfim conhecer o Terreiro do Pai Maneco. Era um Gira de Ciganos mas já na primeira parte foi amor a primeira vista. Mesmo sem conhecer nem entender nada aquilo foi mágico. Só lembro de curt ir a vibração da engoma, o canto e o encanto das músicas, a energia do lugar, dos trabalhos. A partir desse dia faltei somente a segunda-feira seguinte porque já tinha compromisso marcado mas dali em diante não faltei nenhuma segunda-feira.

Comecei então na assistência sentindo a “vibe”. A partir dai conversei sobre Umbanda com amigos e pesquisei muita coisa internet para tentar entender. Muita coisa desencontrada mas que serviu para o aprendizado básico, tanto do certo como do errado. Fui fazer o curso para tentar organizar todas essas informações. Não tinha pretensão de “trabalhar de branco” pois não sabia se poderia assumir esse compromisso todas as segundas, principalmente com o horário de término das giras. Queria muito conhecer todas as giras do terreiro mas não dispunha de tempo, até que começaram as “coincidências” (coisa que aprendi que na Umbanda não existe coincidências). Estava renovando passaportes e tinha que ir na sede da Policia Federal próximo ao Terreiro. Por várias vezes o sistema estava fora do ar e eu tinha que voltar outro dia. Então como era perto do Terreiro já aproveitava para agendar o dia de acordo com a gira que eu queria conhecer. O sistema só funcionou depois que conheci a última gira que faltava rsss. E foi conhecendo todo esse trabalho que tive a certeza que eu tinha sim que “trabalhar de branco”.

Entrei de vez na Umbanda… e entrei totalmente no amor… sem nenhuma dor. Minha “estreia de branco” aconteceu no dia 12 de Outubro de 2015. Um feriado mais que especial onde a principio não haveria gira e acabou tendo. Eu ainda não poderia “entrar de branco” porque faltava terminar o Modulo de Cambone que seria no sábado e só então na próxima segunda estaria apto. Como dia 12 de Outubro é uma data muito especial para mim (e dia 10 meu aniversário), não resisti e fui pedir autorização para Mãe Lucília, sendo abençoado com sua permissão. Momento mais que especial do qual não lembro muita coisa pois estava “anestesiado”.

A partir disso vieram as demais giras, os trabalhos de cambone e o meu Amaci. Momentos inesquecíveis que me deixavam cada vez mais apaixonado pelo terreiro. No fim de ano, em Novembro, como dispunha de tempo livre comecei a frequentar o terreiro aos sábados, acompanhar a orquestra de berimbau, a oficina de maracatu, e principalmente conversar e fazer novas amizades. Apesar de estar tudo muito bonito, muito legal, foi um momento muito complicado porque acredito que como todo Umbandista novato eu estava muito viciado em Umbanda, em Terreiro, em querer saber e conhecer tudo o mais rápido possível. Também estava sofrendo demais com as consultas. Sofria com o sofrimento dos consulentes. Não sabia o que fazer nem como ajudar. Estava perdido porque era um sentimento novo pra mim. Pessoal a minha volta dizia que eu tava virado num chato, sarna, xarope, só queria falar de Umbanda, de caridade, de sofrimento .

Então veio a Festa do Não Bata Cabeça a Toa, onde aconteceu um episódio chato mas que não posso deixar de citar porque foi determinante para minha “recuperação”. Já no final da festa eu estava esperando um lanche e um amigo que eu vendi o convite do almoço de domingo me presenteou com uma latinha de uma cerveja importada, e isso acabou gerando uma confusão. Em resumo, um pessoal que não conhecia viu a latinha diferente e vieram me questionar de estar tomando cerveja que não era vendida na festa. Nisso alguém disse que viu um isopor no meu carro, sendo que o isopor era do pernil e do molho que levei de favor pra Juba do Bar ZéPelin. Enfim, eu sozinho, numa situação constrangedora e lógico, “P da Vida”. Mas por incrível que pareça não era com eles que eu estava “P” e sim comigo mes mo, porque eu me senti acuado, impotente, pois minha vontade era “subir pra dez” e dizer na cara deles o quanto eu colaborei com a festa para estarem me acusando daquele jeito. Por mais que tenha me exaltado mesmo assim me segurei muito e isso me corroeu por dentro. Me senti indefeso e por opção minha mesmo. Mas foi bom. Na verdade foi mágico. Depois de cabeça fria fiquei muito orgulhoso de não ter falado nada pois na hora seria inapropriado e poderia soar com arrogância, prepotência… e também sabe lá como ia terminar esse bate-boca. No fim das contas essa besteira serviu para um propósito muito maior para comigo mesmo. Primeiro eu ter me controlado nessa confusão. E o mais importante foi que eu cai na real. Estava muito “encantado” com o terreiro, principalmente com as pessoas do terreiro. Como se todos fossem gente boa. Todos paz e amor. Achava que todos eram um pouco mais dese nvolvidos, evoluídos, quase perfeitos, uns santos. E no fim das contas caiu a ficha que independente de qualquer coisa todos nós somos humanos, com qualidades e muito defeitos. Não é porque a pessoa “veste branco” que ela é melhor, ou mesmo diferente dos outros lá fora. Foi a partir disso também que acabou aquele meu sofrimento exagerado… de ficar choramingando mágoas…de ficar sentindo pena de tudo e de todos por qualquer coisinha. E como Pai Caco disse na última gira de desenvolvimento e que depois a Mãe Lucília também disse numa gira, estamos pra fazer caridade para os outros mas principalmente para nós mesmos.

Outra coisa muito importante que também mudou em mim foi aquela ansiedade em querer aprender e conhecer tudo rápido. De querer pesquisar coisas fora do terreiro ou na internet. De querer saber porque em outros terreiros é diferente. O que tá certo, o que tá errado. Querer explicação de coisas que talvez nem tenha. Enfim, caiu também a ficha de que sou Umbandista, mas Umbandista Pés no Chão do Terreiro do Pai Maneco. Coisa simples que descobri mas que melhoraram muito meu desenvolvimento, principalmente em amenizar essa “fome” exagerada por informação e conhecimento. Também aprendi a evitar conversar sobre umbanda com que não sabe nada de umbanda e não tem a mínima vontade de saber. De querer catequizar ou mesmo ensinar coisas que a pessoa não sabe e talvez nem eu saiba direito. Ainda to em desenvolvimento nisso tudo mas acho que to melhorando rsss

Resolvido isso, vieram as férias (ótimo período para se desligar do terreiro e relaxar desta tensão que foi o fim de ano) e e logo retornamos aos trabalhos. E foi no Trabalho de Praia que começou minha “afinidade” com Boiadeiro. Durante a gira na praia, num ponto de Boiadeiro senti uma vibração muito forte. O bobão aqui segurou e fui de cabeça na areia, fato que até hoje rende boas piadas para quem viu. Depois em Março tivemos a Gira de Boiadeiro na qual eu não iria porque estava com problemas no carro e na última hora surgiu uma carona. No meio dessa gira, no susto, a Mãe Camila me chamou para o Ogun de Ronda e foi minha primeira experiência com incorporação. Sem palavras para descrever. Só sei que foi muito forte. Dois meses depois, em Maio, outra Gira de Boiadeiro no mesmo dia do Amaci da minha esposa. Es tava trabalhando no meio nesse dia quando a Mãe Camila me puxou para incorporar Boiadeiro. Ali eu senti que realmente eu tenho alguma coisa com Boiadeiro. Nesta semana onde completo 1 ano de terreiro, Gira de Ciganos misturada com Boiadeiros e novamente incorporei no meio. Ainda não consigo entender muita coisa mas nessa minha nova mentalidade to deixando rolar, tentando pensar menos e sentir mais. Vamos ver no que dá. Só sei que fiquei muito feliz com esta novidade das giras de linha neutra serem mistas a partir de agora. Mais do que feliz, me senti agradecido e isso me impulsionou a escrever este “textão” rsss. Na verdade ia escrever um texto mais simples, somente com agradecimentos, mas ontem quando Mãe Lucília falou para o pessoal mandar email sobre o que acharam desse novo formato da gira o recado parecia ser diretamente pra mim… que muitos podem não curtir a Gira de Boiadeiros mas outros como eu amamos … e que era pra escrever tudo que senti neste primeiro ano… e olha que tinha muito mais coisa pra contar, principalmente com as famosas “coincidências”… só posso dizer que foi tudo muito intenso… com descobertas maravilhosas… e com muitas outras ainda por vir.

Meus agradecimentos em especial a Mãe Lucília, Mãe Camila, Pai Caco e Pai Lourenço e aos demais dirigentes da gira de segunda. Ao Pai Renato (gira de terça) e ao Pai Gustavo e a Juba (gira de quinta) por todo aprendizado transmitido em suas giras e nossas conversas. Mãe Jô e Mirtes pelo aprendizado transmitido nos cursos. Aos amigos Renato e Patricia Wolochate que me levaram ao Terreiro. Minha esposa Andressa e meus filhos Gabriel e Luca que sempre me acompanham. Aos amigos Urso e Tchu por todas as nossas resenhas. Aos amigos Renato Hauer e Claudia Malschitzky pelo aprendizado e desenvolvimento como cambone que vem sendo muito importante. Aos irmãos de corrente Lailson e ao meu padrinho de amaci Binha por todos as conversas e conselhos. E por fim, meu agradecimento extensivo a todos os demais irmãos de fé.

Salve o Terreiro do Pai Maneco.

Poli – Gira de Segunda | Mãe Lucília

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.