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Coluna Prata da Casa – Cris Mendes

por Carolina Wanderley

Para começar a nossa série de entrevistas com os artistas do Pai Maneco em 2014, fomos conversar com Cris Mendes, mãe pequena da gira de segunda-feira.

Maria Cristina Mendes é artista plástica formada em pintura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná e também é professora de artes em cursos superiores e pós-graduações, Mestre e Doutoranda. Ela nos recebeu para falar sobre a relação da arte e da Umbanda, e deu um show!

Como a proposta desta coluna é saber qual a relação da Umbanda e da Arte para cada artista entrevistado, perguntamos como isso é percebido por Cris, que nos contou que sua produção artística já teve muita conexão com a religião, e nos deu como exemplo a série de Balangas, que é um conjunto de guias, ou colares gigantes da altura de uma pessoa. Mas também nos narrou que hoje em dia, na sua atividade como professora de disciplinas teóricas em cursos universitários, tem pensado muito sobre uma outra relação da Umbanda com a Arte, de um modo teórico e filosófico até.

Para nos mostrar como essa relação entre o sagrado e a arte é coisa antiga, Cris nos citou exemplos muito, muito interessantes: o pintor Matisse, que quando trabalhava se considerava possuído por uma “outra força da qual ele tinha que ser o médium”; Joseph Beuys, artista que acreditava no sagrado na arte e que numa Alemanha pós nazismo, se considerava um “xamã”; o Construtivismo, uma corrente artística russa do início do século passado, que quando se desenvolveu na Europa Ocidental contou com muitos artistas que tinham uma ligação forte com os estudos de uma linha de estudos esotéricos, a Teosofia; e o Modernismo Brasileiro, que buscou a revalorização da essência brasileira e da energia dessa essência.

Falando sobre estes exemplos de artistas e correntes artísticas, tomando um café com leite numa tarde fria do verão curitibano, Cris Mendes foi desenhando para nós uma linda rede muito maior de ligação de êxtases religiosos e artísticos, ambos nos levando a uma experiência além da vida cotidiana, ambos nos colocando em contato com algo mais do que essa vida de trabalho e dinheiro. Em outras palavras, na arte e na experiência verdadeiramente religiosa, temos a oportunidade de um estado elevado de consciência.

Cris considera que por esse motivo a Terreiro do Pai Maneco recebe tantos artistas: porque a sensibilidade que um indivíduo desenvolveu para fazer arte é semelhante à sensibilidade que ele precisa para a prática religiosa da Umbanda. A arte nos permite entender múltiplos significados de uma mesma obra, e a Umbanda, na medida em que aceita múltiplas possibilidades e sentidos para um mesmo fato, trabalha no mesmo campo da arte.

Ao perguntarmos a Cris o que ela acha a prática religiosa acrescentou ao seu trabalho, ela responde: “O que eu acredito que seja o maior ganho artístico que eu tenho por causa da Umbanda, é a capacidade de pensar, a capacidade de saber que isto é inextinguível, mas de saber que as coisas podem ter outros sentidos que não os sentidos óbvios, engessados.”

E ao final, nossa entrevistada querida termina falando que para ela a

Umbanda é um grande projeto artístico dos Orixás para que possamos respirar e viver”!

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