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O Patrimônio Imaterial do Pai Fernando

por Carolina Wanderley

O ser humano e a cultura que produz desde o início de sua história na face da Terra são dois elementos absolutamente inseparáveis, a ponto de podermos questionar quem é que produz quem: se o homem à cultura ou se a cultura ao homem.

As pedras lascadas, as pirâmides do Egito, o teatro grego, as igrejas góticas, a escultura barroca, a fotografia moderna. Tudo é resultado da vida de homens e mulheres que com a sua arte transmitiram o que é cultura de uma geração à outra, através do que chamamos de patrimônio cultural.

Existem também outras formas de expressão da cultura que não têm um suporte material e por isso são chamados de patrimônio cultural imaterial: são hábitos, danças, cantigas tradicionais, comidas, fazeres cotidianos de povos que perpetuam a identidade de um grupo. Neste conjunto de elementos imateriais estão também as manifestações religiosas, e a Umbanda.

Foi em julho de 2008 que soube do interesse de Pai Fernando pelo assunto. Ele dizia que a Umbanda por muito tempo sofreu preconceitos variados, de ordem religiosa, mas também cultural. Pai Fernando tinha consciência também que a religião é um perfeito retrato do sincretismo cultural de nosso povo. E tinha a perfeita visão de que quando um elemento cultural é reconhecido como Patrimônio Imaterial pelo Poder Público, a população envolvida naquela manifestação ganha força para afirmar a sua identidade e se desenvolve socialmente. Com a Umbanda não poderia ser diferente!

Assim, se aproximando o Centenário da Umbanda em 2009, Pai Fernando iniciou um belíssimo movimento que culminou no reconhecimento do 15 de novembro como Dia da Umbanda e do Umbandista no Paraná.

Hoje em dia, com a participação de vários grupos pelo Brasil, as conquistas se estenderam: a Umbanda é reconhecida como Patrimônio  Imaterial no Estado do Rio de Janeiro, desde 2009, e na cidade de São Paulo, desde 2012. E o dia 15 de novembro hoje é o Dia Nacional
da Umbanda.

Contudo, ainda não temos o reconhecimento da Umbanda como Patrimônio Imaterial. Não é tarde para buscar, mas cabe uma reflexão: o  orgulho de fazer parte de uma casa onde a cultura é tão valorizada, onde a arte é incentivada, onde a prática da religião é orgulhosamente divulgada, tudo isso tem um valor imensurável. Por isso ouso dizer, sem medo de errar, que no processo de afirmação da identidade do
umbandista, na quebra de tabus e na valorização da dos terreiros e da Umbanda, o trabalho da vida de Pai Fernando alcançou resultados maiores do que qualquer reconhecimento do Poder Público. Por isso, e me desculpem o trocadilho, a Umbanda do Pai Fernando
já é um Patrimônio Imaterial que nós, seus filhos de santo, herdamos de peito aberto!

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